Desde 2001, uma potente (e peculiar) voz feminina invadiu o cenário da música brasileira. Foi, sobretudo, a partir de "Quem de Nós Dois", versão para a canção italiana "La Mia Storia Tra Le Dita", executada sem parar em rádios de todo o Brasil. Era apenas o início. Desde então, a mineira de Juiz de Fora que anteontem completou 34 anos se consolidou, álbum após álbum, show após show, como uma das grandes cantoras deste Brasil de Elis Regina, Gal Costa e Maria Bethânia, entre outras célebres vozes.
Já praticamente consagrada como artista, no final de 2005, uma foto (posada) de Ana Carolina ganhou a capa da revista Veja, e uma de suas frases foi estampada na capa da publicação: "Sou bi. E daí?". A partir do fato, a cantora, compositora e instrumentista (que toca pandeiro com muita verve) angariaria ainda mais fãs, sobretudo na comunidade GLS. "Acho natural gostar de homens e mulheres", afirmava naquele contexto Ana Carolina. Depois daquela reportagem, quando as luzes se apagam, entre uma canção e outra nos shows da artista, mulheres e homens costumam gritar: "Gostosa! Maravilhosa! Tesão! Te amo! Linda! Poderosa!". E, sem perder a pose, e a ternura, Ana Carolina segue. A compor. A tocar. E a cantar.
Bossa supernova
Reza a lenda que durante a turnê do álbum Dois Quartos, de 2006, Ana Carolina articulou e passou a apresentar em intervalos profissionais um show no formato mais ou menos acústico. Entre um banquinho, um violão, certas guitarras, outros teclados, doses de percussão e muita, mas realmente muita voz, Ana Carolina formatou Trio o show a ser apresentado hoje à noite na capital paranaense. No palco do Teatro Positivo, além dela, Alexandre Amback (teclados), Antonio Reis Costa (percussão), Vinícius Rosa (guitarra) e Jussara e Jurema Lourenço (backing vocals). No repertório, de acordo com a produção, foram confirmadas apenas as canções "Ela É Bamba" e "Pra Rua Me Levar".
Ou ela te devora
Qual o segredo desta talentosa mineira? "A canção/ tocou na hora errada", cantava, já em 1999, Ana Carolina, em seu álbum de estréia, batizado com o nome dela. Mas as canções, certeiras, sobretudo do segundo e consagrador álbum, Ana Rita Joana Iracema e Carolina, arrebatariam o imaginário do público brasileiro. A parceira com Totonho Villeroy frutificou em hits. E o projeto seguinte, Estampado, de 2003, emplacou a canção "Encostar na Tua" na trilha da novela Celebridade, da Rede Globo. Em breve, o Brasil estaria aos pés e de ouvidos e olhos bem atentos nela.
A rouca, grave e sedutora voz de Ana Carolina faria dobradinha com a de Seo Jorge, em 2005, no álbum Ana e Jorge. O tempo passou, outros álbuns vieram, alguns DVDs, e a potente voz de Ana Carolina, em alguns momentos, hoje beira o insuportável. Ela grita, meio exagerada, meio fora de controle e o que poderia ser classificado de marca registrada agora soa, às vezes, como cacoete ou tique. Há, mesmo entre fãs, quem diga que o que separa Ana Carolina de algo chamado perfeição são esses gritos que, se viessem a ser controlados, por um produtor, fariam dela a maior entre as maiores.
Mas, esfinge que é, e que se transforma, às vezes no estúdio, mas sobretudo no palco, Ana Carolina, mais do que indecifrável, parece ser mesmo indomável. E, então, que grite. Em paz. Ou não.
Serviço
Show Trio, de Ana Carolina. Teatro Positivo Grande Auditório (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300), (41) 3315-0808. Hoje, às 21 horas. De R$ 90 a R$ 140 (estudantes, idosos, doadores de sangue com carteira comprobatória e professores dos ensinos público e privado) e de R$ 108 a R$ 168 (doadores de um quilo de alimento não-perecível e clientes do Disk -Ingressos). Assinantes da Gazeta do Povo contam com 50% de desconto na compra de até quatro ingressos (não-cumulativo com outros descontos).
