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Cinema e crítica

Produtor de 'Turistas' defende filme e diz que Brasil precisa mudar a realidade

"Mudem a realidade do país para a imagem também mudar", defende-se o produtor Raul Guterres dos ataques que "Turistas" vem sofrendo. Classificado como um filme de terror, a produção americana mostra a história de um grupo de jovens viajantes de férias pelo litoral brasileiro. Eles acabam assaltados, drogados e vítimas de uma quadrilha de tráfico de órgãos. O longa estreou nos Estados Unidos esta sexta-feira com pesadas críticas dos principais jornais americanos ( leia aqui ) e vem causando polêmica no Brasil, ao mostrar uma imagem violenta e algumas vezes equivocada do país.

O brasileiro Raul Guterres, radicado em Los Angeles há 11 anos, trabalhou não só na produção como colaborou no roteiro escrito por Michael Arlen Ross. Segundo o produtor, a história foi escrita originalmente para ser passada na Guatemala mas, quando chegou em suas mãos, ele sugeriu rodar o filme no Brasil. Algumas adaptações foram feitas na história, como incluir a quadrilha de traficantes de órgãos.

- Pesquisei na internet e descobri que existe mercado de órgãos no Brasil, principalmente no Nordeste - diz o produtor maranhense.

Quanto a diálogos equivocados, ele explica o perfil de alguns personagens. Como o do médico brasileiro Zamora, que diz traficar órgãos de estrangeiros para "lutar contra o imperialismo do Primeiro Mundo".

- Ele tem um discurso pseudo-nacionalista. Tem gente que vai achá-lo louco, outros, verdadeiro. E se causou reações aí, causou aqui também. Algumas pessoasdizem que o filme é anti-americano - explica Guterres, referindo-se também ao protagonista do filme, chamado pela crítica de "americano idiota". - Ele é o típico americano que não viaja e não conhece outras culturas. Só vai ao Brasil porque os pais o obrigam a acompanhar a irmã mais nova.

A Mata Atlântica foi cenário para o filme, assim como as cachoeiras da Chapada da Diamantina/ Divulgação

Guterres critica quem ainda não viu o filme e é contra a reação de órgãos de turismo brasileiros, que vêm criticando a produção. Segundo ele, vários filmes de terror foram feitos nos Estados Unidos sem afetar a imagem do país. Ele cita como exemplo o clássico "O massacre da serra elétrica", com a trama toda passada em um vilarejo do Texas. Para o produtor, ninguém deixou de atravessar o estado americano de carro por causa do filme.

- Nós brasileiros temos uma coisa de defesa instantânea que acaba levando a injustiças. Muitos filmes de terror rodados em várias partes do mundo não revoltaram ninguém.

No entanto, quem assiste ao trailer ao som de mambo e imagens de mulheres de biquínis pode ficar revoltado com certas imagens e clichês. Para piorar, a Fox Atomic (distribuidora do filme nos EUA - no Brasil, a Paris Filmes comprou os direitos de distribuição) criou um site chamado Paradise Brazil , que traz um "pacote" para os desavisados.

Além do guia "Aprenda a verdade", estampado por uma foto com um policial levando um homem algemado, há um link sobre um equivocado transporte de ônibus para turistas (na verdade, uma brincadeira de mau gosto com os veículos usados no filme) e outro para um estranho vídeo sobre uma remota praia no Brasil, em que jaz o corpo de uma mulher (!!!). Guterres justifica o trailer e o site como idéias da Fox para atrair o público jovem.

" Eles têm medo é de ver '174', que mostra a palhaçada com a segurança no Rio "

Se a imagem do Brasil pode ser prejudicada? O produtor brasileiro é enfático. "Mudem a realidade do país, que a imagem também vai mudar".

- Ficam com esse pseudopatriotismo hipócrita, quando a realidade é muito pior que o filme. Estão reclamando tanto, mas um ônibus cheio de turistas acabou de ser assaltado no Rio!!!

Para Guterres, o documentário "174" - sobre o seqüestro de um ônibus, em 2000, que acabou na morte da refém e do assaltante, depois de ele já estar em poder dos policiais - causou muito mais impacto.

- Os americanos não são burros. Sabem que o formato de "Turistas" é de ficção. É para rir, se assustar. Eles têm medo é de ver "174", que mostra a palhaçada com a segurança no Rio.

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