
O Brasil tem assistido toda semana a aulas de bom jornalismo. O programa Profissão Repórter, exibido nas terças feiras, às 23 h15, pela Rede Globo, vem presenteando o espectador com ousadas abordagens de temas polêmicos, e por vezes incômodos, como o tráfico e o uso de crack, os vários tipos de abusos sofridos pelas crianças no Brasil e o perigoso coquetel que mistura álcool e direção, muito popular no país, apesar de ilegal.
Sob o o comando e a orientação do experiente jornalista Caco Barcellos, estudantes e recém-formados de escolas de Comunicação têm a oportunidade de pôr a mão na massa, d e descobrir que o lugar de um bom repórter é na rua, onde tudo ou quase acontece. A premissa do programa é interessante, porque expõe ao grande público o avesso do jornalismo televisivo, seus métodos, entraves e "costuras". Como é feito, enfim. E essa abordagem só torna a reportagem mais pulsante, trazendo a realidade para perto do espectador. Especialmente porque o foco central é sempre o personagem.
Na última terça-feira, quando o tema foi o consumo e o tráfico de crack, o Profissão Repórter expôs, de forma bastante explícita, a gravidade de um problema que, infelizmente, muitos ainda insistem em varrer para baixo do tapete, alimentando a ilusão de que seja uma mazela dos miseráveis. Mentira. As reportagens feitas pelos aprendizes de Barcellos mostram que a classe média brasileira já foi atingida em cheio.
Um dos repórteres se internou em uma clínica de recuperação de usários. Passou a noite na ala dos "trancados", pacientes que, ainda na fase inicial de tratamento, dormem em uma parte da casa cujas portas e janelas são fechadas a cadeado para que não fujam. Lá, o neojornalista encontra um rapaz viciado em crack que compartilha o vício com um irmão e uma irmã, também sob tratamento em uma instituição a quilômetros dali.
Outro trainee levanta uma história perturbadora no Rio Grande do Sul: uma mulher acusada de matar o prório filho, dependente químico há anos, com um tiro. O crime teria sido cometido na frente do marido. À beira da piscina da casa da família, numa região de mansões.
Mas crack não é droga de pobre? Caco Barcellos prova, ele mesmo, que sim. Também. A bordo de um carro, em companhia de um cinegrafista, ele vai ao coração da cracolândia, no centro de São Paulo. O cenário é apocalíptico. Dezenas, senão centenas, de homens, mulheres, jovens e crianças, vagam pelas ruas em busca e por causa da "próxima pedra". E a pedradas recebem a equipe de reportagem. Depois, alguns concordam falar, contar um pouco de suas histórias trágicas. E o milagre do jornalismo se faz.



