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FESTIVAL DE GRAMADO

Proibição de Serbiam Film é criticada

Especialistas afirmam que filme tem qualidade questionável e não merecia destaque nacional. Veto, porém, é rechaçado

Proibição de filme foi tema do debate “A censura voltou? Veto ao longa Serbiam Film”, em Gramado | Gabriella Di  Bella /Press Photo
Proibição de filme foi tema do debate “A censura voltou? Veto ao longa Serbiam Film”, em Gramado (Foto: Gabriella Di Bella /Press Photo)

Um dos temas mais comentados no primeiro final de semana do 39.º Festival de Gramado foi a proibição da exibição do filme A Serbiam Film – Terror sem Limites. De acordo com os críticos, o filme de terror tem qualidade questionável e não merecia destaque nacional. O veto sofrido, porém, foi rechaçado e comparado à censura – uma cópia em 35 mm do filme foi apreendida pela Justiça do Rio de Janeiro, no último dia 22. As cenas de pedofilia e abuso sexual foram consideradas impróprias.

O Ministério da Justiça classificou, na sexta-feira passada, o filme como não recomendado para menores de 18 anos, o que libera a exibição da produção no país. O trâmite para a classificação indicativa já havia se arrastado por mais de uma semana, algo incomum no órgão. A determinação da faixa etária é fundamental para exibição nos cinemas, que podem ser multados caso projetem uma produção sem indicação. No Rio de Janeiro, porém, a proibição continua por conta da ação encaminhada pelo Partido Democratas (DEM).

Segundo o diretor-adjunto do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça, Davi Pires, o fato de alguns analistas se recusarem a ver o filme até o final e a polêmica acabaram atrasando a decisão do órgão. Segundo ele, classificação de 18 anos encerra, em tese, o embate. Porém, não há como descartar a possibilidade de outros estados entrarem com ações de proibição.

Debate

Em Gramado, a organização do festival, junto com a Associação Brasileira dos Críticos de Cinema (Abracine) e a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), realizou no último sábado o debate "A censura voltou? Veto ao longa Serbiam Film". A Abracine já havia divulgado uma nota de repúdio, considerando a proibição censura.

Segundo o diretor do Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa), João Pedro Fleck, o filme não tem qualidade para merecer a atenção que ganhou, mas não há motivos para ter sido proibido. "Ele toca em pontos cruéis. Mas proibir um filme desses sob alegação que pode levar pessoas a cometerem atos de pedofilia é a mesma coisa que negar que um filme que mostra assassinatos circule".

Para o diretor da distribuidora Lume Filmes, Frederico Machado, da Lume Filmes, o ato é censura, nos mesmos moldes do que ocorria na Ditadura Militar, que proibia e cortava longas-metragens estrangeiros deliberadamente. "Outros filmes tratam da pedofilia de forma muito mais perigosa e inteligente. O caminho é educação para que as pessoas reflitam sobre uma obra de forma adequada".

O presidente da Abracine, Luiz Zanin, ressaltou que o debate serviu para falar sobre liberdade de expressão, e não sobre o filme em si. "A gente pensou que os instrumentos de proibição pertencessem a um passado, mas eles estão aí. Pode aparecer um outro filme amanhã que suscite as mesmas resistências".

Assim como o diretor do Fantaspoa, Zanin reiterou que A Serbiam Film tem péssima qualidade. "O filme é um horror. Não perderia dois minutos escrevendo sobre o filme se não fossem esses problemas", afirmou. "Existe a concepção de que a sociedade no Brasil tem de ser tutelada, e que uma pessoa de 18 anos que é autorizada a votar e dirigir não pode ser exposta a certas manifestações artísticas", completou.

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