
Um dos melhores filmes que estiveram em exibição em Curitiba nas últimas semanas foi o premiado longa-metragem uruguaio A Vida Útil, de Federico Veiroj, que tem como protagonista um homem que após uma existência inteira de trabalho dedicado à Cinemateca de Montevidéu, se vê sem emprego e, pior, roubado da razão de sua vida: o cinema.
Embora tenha sido o filme escolhido para representar o Uruguai na corrida por uma vaga entre os indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2011, e tenha sido exibido na capital paranaense por algumas semanas, A Vida Útil foi visto por pouquíssimos espectadores. Assim como boa parte dos títulos exibidos no Cine Guarani, desde que a sala instalada no Centro Cultural do Portão (CCP) e sob o comando da Fundação Cultural de Curitiba foi reinaugurada em 28 de junho deste ano, depois de passar por extensas reformas.
Segundo a coordenadora de Cinema e Vídeo da Cinemateca de Curitiba, Solange Stecz, também responsável tanto pela administração quanto pela programação do Guarani, o público da sala, que tem 164 lugares, tem deixado muito a desejar. A média de ocupação tem sido de 20 a 30 espectadores por sessão, em uma estimativa otimista, quando o ideal seria ter metade dos assentos tomados nas três sessões diárias: às 16 horas, com filmes voltados ao público infantojuvenil, e às 18 e 20 horas, com programação destinada a adultos.
O Cine Guarani teve sua primeira vida no bairro Portão entre 1955 e 1974, quando foi fechado. Em 1988, a sala foi reinaugurada, já dentro das instalações do Centro Cultural do Portão, com a exibição do longa nacional Eternamente Pagú, de Norma Bengell. Essa segunda encarnação durou até 2003, quando fechou as portas, reabertas neste ano.
Motivos
Há várias razões que explicam a baixa frequência do Guarani. A sala é ainda pouco conhecida dos curitibanos e está cercada de salas de exibição de perfil comercial, em multiplexes que funcionam nos shoppings Total e Palladium, vizinhos do CCP. A programação, por sua vez, talvez nem sempre tenha grande apelo para uma plateia mais numerosa.
Solange disse à reportagem da Gazeta do Povo que a opção é por títulos nacionais mais alternativos A Vida Útil é uma exceção internacional que poderá ser seguida por outras , que não tenham encontrado telas disponíveis no grande circuito. "Por isso, temos trabalhado principalmente com distribuidoras independentes, como Vitrine, Polifilmes, Downtown, e Pandora."
As chamadas majors (Universal, Paramount, Fox e Sony), e mesmo empresas menores, conta Solange, relutam em deixar que seus filmes sejam exibidos no Guarani, porque o cinema tem ingressos subsidiados, bem mais baratos do que a média do mercado: R$ 5, R$ 2,50 (meia) e R$ 1 (aos domingos). Como ficam com 50% do total arrecadado, acabam recebendo muito menos do que ganhariam caso o filme estivesse em cartaz no circuitão.
Desde sua abertura, o Guarani exibiu títulos festejados pela crítica, como Girimunho, de Helvécio Marins e Clarissa Campolina, Trabalhar Cansa, de Juliana Rojas e Marcos Dutra e o documentário Vou Rifar Meu Coração, de Ana Rieper.



