
Brasília - Era 1968. Lance Maior, primeiro longa-metragem de Sylvio Back (Guerra dos Pelados e Aleluia, Gretchen!), estreou no 4° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, onde recebeu os seus primeiros prêmios: de melhor atriz (Irene Stefânia) e de melhor cartaz (para o arquiteto curitibano Manoel Coelho).
Quarenta anos depois, a produção paranaense volta ao evento que a consagrou. O filme será exibido amanhã, na noite do encerramento, logo após a premiação dos filmes que participam da mostra competitiva, com a presença do diretor e do elenco protagonista: Reginaldo Faria, Regina Duarte e Irene Stefânia.
O filme retorna ao cinema após um intervalo de 20 anos, quando foi exibido em Curitiba, em um auditório da Secretaria Estadual de Cultural do Paraná (SEEC). Na época, Back alertou a platéia de 300, 400 pessoas: "Esse filme é mais velho que vocês". "Mas a reação foi praticamente a mesma que vi no Cine São João, nos anos 1960", conta o diretor, que após a exibição ouviu elogios como "parece que foi feito ontem".
Passados 40 anos, ele imagina que a sensação será a mesma. Mas não teme reações adversas. "O risco é uma grife para mim", diz. O filme chega a Brasília em cópia restaurada pela organização do festival, em parceria com a Cinemateca Brasileira, de São Paulo, e com o Labocine, no Rio de Janeiro.
A mesma cópia viaja a Curitiba, no dia 17 de dezembro, data em que o roteiro do filme, de autoria de Back, Oscar Milton Volpini e Nelson Padrella, será lançado na Cinemateca. Nada mais justo, já que Curitiba é o cenário principal do longa-metragem que inseriu o Paraná no mapa nacional da produção de ficção também foram feitas filmagens em Antonina e na Serra do Mar.
Nos dois meses de filmagem, houve um rebuliço na cidade. Todos queriam ver Regina Duarte, então "a namoradinha do Brasil", em seu papel de estréia no cinema. As seqüências tinham que ser feitas com proteção policial. "Curitiba foi generosa. A cidade tinha a fama do filme não feito e inacabado. Muita gente fingia filmar na rua, sem filme na câmera", conta Back.
Mas a escolha de atores nacionais, "para dar visibilidade nacional ao filme", não foi bem vista no início. "A reação estava entre o assombro e a indignação. Havia preconceito contra atores de tevê, como se a televisão fosse algo menor", conta Back. Ele diz que convidou os atores na "cara-de-pau". No caso de Regina Duarte, entrou no seu camarim, após a apresentação de uma peça, em São Paulo, e entregou-lhe o roteiro.
O convite para viver o papel de Cristina, uma jovem rica e emancipada, foi logo aceito. Reginaldo Faria interpreta Mário, estudante universitário e bancário dividido entre ascender socialmente e se juntar ao movimento contra a ditadura militar. Sua vida amorosa também está cindida: ele precisa se decidir entre Cristina, alienada politicamente e interessada em sua própria libertação sexual, e a balconista Neusa (Irene Stefânia), revoltada com a condição humilde de sua família.
O diretor conta que a atriz premiada em Brasília não gostava de ensaiar. "Eu dizia que ela me lembrava o (jogador) Didi, que dizia treino é treino, jogo é jogo. Mas quando eu falava ação, ela virava uma fera."
Lance maior, expressão que se usa em consórcios, intitula o filme, que tem como tema a ascensão social. "São três jovens urbanos que querem subir na vida com seus trunfos: a liberdade sexual, a beleza e seus próprios méritos profissionais", diz Back. O cineasta conta que fez o filme com uma linguagem própria, "que não coincidia com o que se fazia na época", pontuada de referências a filmes europeus de diretores como Rossellini, Bergman, Visconti, Godard, Resnais e do cinema norte-americano. "Mas nunca pus o olho no visor tentando homenagear um cineasta", esclarece.
O filme está previsto para ser lançado em DVD, como parte do segundo volume da série Cinemateca Sylvio Back (Versátil), no primeiro semestre de 2009, juntamente com o longa-metragem Revolução de 30 (1980) e República Guarani (1979), além de alguns curtas-metragens.
A repórter viajou a convite da organização do evento.




