
Às vezes, é preciso viajar pelo mundo para, depois de muito tempo, entender que a própria rua pode ser bem bacana. O raciocínio pode ser aplicado à trajetória da Companhia Brasileira de Teatro que, após uma década de pesquisa intensa e flerte com autores estrangeiros, conseguiu uma de suas melhores performances em sua nona montagem.
Vida, que estreou dia 19 de março no Festival de Curitiba, surgiu depois de uma profunda pesquisa da obra e da existência do poeta Paulo Leminski (1944-1989).
Jornalistas especializados do eixo São Paulo-Rio de Janeiro gostaram do que viram. Mais do que aplaudirem de pé, escreveram textos críticos elogiando a montagem.
Vida cumpre, a partir de hoje, nova temporada, de quinta à sábado, às 20 horas, e domingos, às 19 horas, no mesmo palco em que a peça foi apresentada no festival, o Teatro José Maria Santos.
Os atores dizem, em coro, que estão muito satisfeitos.
A boa recepção da crítica e os comentários boca a boca, de amigos, de colegas e do público do o Festival de Curitiba, todo esse burburinho deixou o elenco com sorriso permanente no rosto.
Eles nem lembram mais do cansaço dos ensaios finais, que aconteceram nas quatro semanas de janeiro: foram de mais de oito horas diárias, de segunda a segunda. O texto estava pronto em fevereiro. A montagem, como um todo, também. O único temor era de que algo desandasse. A estreia não podia esperar. Março chegou e, enfim, Vida aconteceu. Ufa!
Giovana Soar afirma que, nesta montagem, o diretor Marcio Abreu se superou. Afinal, completa a atriz e integrante da companhia, Vida não tem "historinha". "Se for para falar qual é a historinha de Vida, é algo bem simples. Trata de quatro personagens que ensaiam para uma apresentação. Mas, obviamente, Vida é bem mais do que isso", diz Giovana.
Nadja Naira acrescenta que a proposta de Marcio Abreu diz respeito ao não óbvio. "Se, de repente, as companhias apostam em superinterpretações (dos atores), o Marcio Abreu segue por outros caminhos. Ele, por exemplo, está mais interessado em explorar as nossas fragilidades. O Marcio não quer evidenciar o que nós (atores) temos de melhor. Ao contrário. E o resultado dessa proposta é surpreendente", comenta Nadja.
Vida trata, como o nome já sugere, do que pode ser a existência. Quatro personagens, apresentados com os nomes próprios dos atores, ensaiam para uma apresentação. Eles montam uma banda, "medíocre", na definição de Ranieri Gonzalez. Enquanto esperam pela grande noite, "vivem": dialogam, se expõem, brigam, contam piadas e discutem a travessia humana.
Paulo Leminski, ponto de partida do projeto, está presente no espetáculo, mais nas entrelinhas do que diretamente no texto. O imaginário do poeta, a sua conhecida curiosidade, a faceta do poliglota e do falante loquaz foram incoporadas e, como define Gionava, formam uma espécie de caos. "O caos leminskiano se faz sentir em Vida", observa a atriz.
O que o público vê, ouve e percebe em cena é um eco do legado de Leminski, mas também de fragmentos pessoais de cada um dos atores. Em determinado momento do processo de pesquisa, o cartunista Luiz Antônio Solda chamou a atenção do elenco para um fato: as pessoas começam a falar do Leminski, e terminam falando de si mesmas. Estava aberto um caminho. Seria necessário, apenas, seguir. GGGG
Serviço
Vida. Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655), (41) 3322-7150. Direção de Marcio Abreu. De quin. a sáb, às 20 horas. Dom., às 19 horas. R$ 20 e R$ 10 (meia).




