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Antes e depois

Reações em cadeia

Analistas falam sobre os efeitos dos atentados terroristas que isolaram os EUA no cenário mundial e afetaram direitos individuais

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Nova York - O mundo está mais frio em suas relações internacionais desde o dia em que 19 terroristas sequestraram quatro aviões e os arremeteram contra as Torres Gêmeas do World Trade Center e o prédio do Pentágono (um deles seguia para Washington, mas uma revolta dos passageiros contra os sequestradores o fez cair em um campo de Shanksville, na Pensilvânia).

Para os especialistas consultados pela Gazeta do Povo, essa é grande consequência do 11 de Setembro. A maior entre várias que afetaram liberdades pessoais, geraram duas guerras no Oriente Médio –no Afeganistão e no Iraque –e alimentaram uma desconfiança infundada contra muçulmanos, que formam uma comunidade global de 1,5 bilhão de fiéis.

O professor Sidney Leite, pós-doutor em conflitos do Oriente Médio, explica que a mudança-chave causada pelos atentados terroristas de 2001 alterou a agenda internacional, até então dominada por conceitos de globalização, integração e cooperação entre os países, não importa o quão diferentes fossem.

Após os atentados, a agenda passou a ser voltada para o conflito, para questões ligadas ao terrorismo. "A integração econômica deu lugar ao discurso do choque das civilizações, alterou o que era mais significativo para o mundo", diz Leite.

O mundo foi da cooperação à desconfiança. A abertura iniciada no fim dos anos 1980, alimentada pelo fim da União Soviética e pela queda do Muro de Berlim, evaporou-se. "Os países passaram a se proteger mais e se fecharam mais", diz Leite, comparando o 11 de Setembro a uma "grande tempestade" de mudanças. Foi o começo de uma década infernal, sobretudo para os americanos. Uma década muitas vezes descrita como de desordem, fora de controle.

Cristina Tecequilo, professora de Relações Exteriores na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), fala em como o equilíbrio de poder mundial foi alterado pelos atentados, detonando um processo de isolamento dos EUA. "Eles se afastaram dos outros países e assumiram um foco excessivo no militarismo, dando espaço para que forças regionais surgissem, em países emergentes", diz Cristina. O mundo, nos termos da professora, se tornou mais achatado – os direitos pessoais foram esmagados pelo pânico do 11 de Setembro, que justificou inúmeras políticas agressivas.

"Ignora-se o fato de que a democracia preservada por meio da repressão não é democracia", diz a professora. Em uma atmosfera de horror, segundo Cristina, "as pessoas aceitam certas humilhações em nome de proteção". Pense, por exemplo, nos transtornos dos aeroportos, algo que muitos consideram um preço pequeno a pagar para se evitar uma ação terrorista.

Erros e acertos

"Acho que as restrições nas liberdades civis dentro dos EUA foram muito significativas. Embora eu não esteja certo de que existam outros países mais livres", diz o professor Robert Jervis, da Universidade Columbia, em Nova York.

Para Jervis, é mais fácil listar os erros do que os acertos da política externa americana. "As limitações nas liberdades civis americanas, a Guerra do Iraque, a incapacidade de se concentrar no que precisava ser feito no Afeganistão em vez de tentar reconstruir o país e, de maneira mais genérica, a crença enviesada de que o terrorismo é uma ameaça tamanha que combatê-la deveria ser a maior prioridade dos EUA", diz, enumerando os equívocos. "Com todos os erros americanos, é muito fácil perder de vista o fato de que as coisas poderiam ter sido muito piores."

Cristina Tecequilo diz que George W. Bush acelerou a queda da hegemonia americana. Muito embora o presidente e sua equipe – o vice Dick Cheney e a secretária de Estado Condoleeza Rice – não encarassem suas ações como erros, no fim do mandato de Bush, os EUA haviam perdido um bocado da credibilidade na política externa e tentaram recuperar espaço, mas era tarde demais.

Imigração

"Desde o 11 de Setembro, tem havido um exagero constante em relação aos riscos impostos pelos imigrantes à segurança do país. O resultado disso foram os abusos conhecidos que, infelizmente, parecem muito bem calculados para se obter vantagens políticas", diz Mark Miller, professor da Universidade de Delaware e especialista em Segurança Nacional.

Em entrevista para a Gazeta do Povo, Miller cita que, apenas nos últimos dois anos, mais de 800 mil imigrantes foram deportados dos EUA, baseados em uma lei de 1996 que se mostrou muito útil para o mundo pós-11 de Setembro. Poucos representavam um risco verdadeiro para a segurança nacional.

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