
Hoje e amanhã serão realizados dois recitais raríssimos um diferente a cada dia da obra do compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827), na Capela Santa Maria. Na noite de hoje, a violoncelista Maria Alice Brandão e o pianista Ney Fialkow executam a "Sonata nº 1", a "Sonata nº 2", a "Sonata Opus 17" (escrita originalmente para trompa) e ainda variações sobre temas de Händel (1685-1759). Amanhã, serão apresentadas a "Sonata nº 3", a "Sonata nº 4", a "Sonata nº 5" e variações sobre o tema da ópera A Flauta Mágica, de Mozart (1756-1791).
O produtor cultural Alvaro Collaço, responsável pelo "acontecimento", salienta enfaticamente que se trata da primeira vez que esse programa completo de sonatas é apresentado em Curitiba. São obras específicas para violoncelo e piano, além das variações sobre as peças de Händel e Mozart. "Pode soar incrível, mas há obras de Beethoven ainda inéditas por aqui, completamente desconhecidas do grande público", afirma Collaço.
A violoncelista Maria Alice Brandão, considerada uma das mais importantes instrumentistas do Paraná, comemora a realização dos recitais. "Na época de Beethoven (séculos 18 e 19), ninguém escrevia para violoncelo e piano. Beethoven foi ousado. Ele estava escrevendo para o futuro", diz. Brandão confessa que executar esse repertório é uma mistura de prazer e desafio. "Há mais de um ano que estou me preparando", revela.
O pianista e professor do curso de pós-gradução em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ney Fialkow conta que participar desse recital é um dos maiores desafios de sua carreira. "Cada concerto é um desafio, mas este, em Curitiba, é algo incomparável". Fialkow comenta que, apesar da grandeza e da complexidade da obra de Beethoven, a música tem mesmo de tocar a pele, sensibilizar. "É preciso ouvir, sentir e deixar se levar pela música."
Sonatas
O musicólogo Harry Crowl explica que as sonatas de Beethoven para piano e violoncelo foram elaboradas durante o ápice do período produtivo do compositor, entre 1796 a 1815. "Após a contribuição de Beethoven, foram poucos os compositores que se arriscaram na difícil tarefa de equilibrar esses dois instrumentos tão díspares", diz Crowl. O especialista esclarece que compor para piano e violoncelo é um desafio imenso, devido aos graves de ambos os instrumentos "pois a região 'dos baixos' do piano tende a encobrir as notas mais graves do violoncelo".
Fialkow, por sua vez, informa que o formato da sonata de maneira resumida se caracteriza pela apresentação de temas contrastantes que se opõem, em tonalidades diferentes, e que, ao final, se resolvem em uma mesma tonalidade. "No entanto, não precisa de tanta 'teorização'. Na 'hora da verdade', o que vale é a comunicação do compositor, via intérprete, com a platéia."
O pianista ainda verbaliza que, por mais que se estude e procure entender os temas de Beethoven, "as músicas do compositor alemão, que transitou do classicismo para o romantismo, costumam surpreender."
ServiçoObra Integral para Violoncelo e Piano de Beethoven. Maria Alice Brandão (violoncelo) e Ney Fialkow (piano). Capela Santa Maria (R. Cons. Laurindo, 273 Centro). Hoje (27) e amanhã (28). Às 20h30. R$ 10 (inteira) ou R$ 5 (estudantes e idosos). Mais informações: (41) 3321-2840.




