A performance art é, hoje em dia, o meio de expressão que proporciona maior experimentação por parte do artista. Por possuir uma estrutura aberta, pode englobar as mais diversas expressões, técnicas e tecnologias, em um trabalho artístico. Tais possibilidades acabam, também, dificultando uma definição exata, tornando constante a pergunta: "Mas o que é performance art?"
O artista cria as regras
A preocupação em definir a performance art está em fechar o seu conceito ou limitá-la. Realmente, é uma preocupação substancial, pois é sua característica não possuir regras ou limites prévios. Quem os dá é o artista quando cria, ou seja, cada performance terá suas próprias regras e limites individuais. Isso pode passar a impressão de caos, de confusão, de que cada artista assim define o seu trabalho como performance por pura liberdade poética ou mesmo por convenção. Pois, eu digo que não.
Todas as performances possuem, sim, elementos em comum e que aqui chamo de elementos necessários. Por mais diversos que sejam seus temas, seus conteúdos, suas técnicas, esses elementos necessário são constantes e auxiliam a identificar um trabalho de performance art. Chamo de elementos necessários: o corpo, a ação, o público, o espaço e o tempo, e pretendo explicá-los melhor.
A idéia de corpo
O corpo não é somente a matéria ou o material do artista, mas o próprio artista, sua subjetividade. É no corpo que encontra sua linguagem, seus signos, suas relações psicológicas, políticas e sociais. Por mais que o artista trabalhe com outros corpos, com outras pessoas, é a sua idéia de corpo que opera dentro da performance. A performance sempre é um direcionamento do artista para fora.
É a ação que direciona a performance para o campo da comunicação. O corpo é a linguagem, a ação é a comunicação. A ação sempre produz significação nos outros, ela sempre tende a um diálogo. O artista não atua, age. Não é uma imitação ou uma representação, é ação viva, pura e simplesmente. A ação mais simples, como levantar um braço ou direcionar um olhar, já é significante. Até mesmo ficar parado, estático, já se define como ação. Negar-se a agir é uma atitude significante.
O público é a pluralidade das pessoas e é com ela que a performance dialoga. A cada performance, o público sempre será uma incógnita, pois não é massa, não é definido. São pessoas, cada uma com sua individualidade, sua vivência, sua experiência se relacionando com o artista. Este não precisa tocar o público, fazê-lo interagir de uma forma direta para criar o diálogo. É pela ação, pelo corpo, seja distante ou perto do público, que se cria uma relação com o público. É a presença do público que possibilita o diálogo.
O espaço da performance é aquele que o artista denomina. Todo e qualquer espaço permite as mais variadas possibilidades de desenvolvimento de uma performance e o artista tem ciência disso. Por isso é possível que uma mesma performance aconteça em ruas, praças, espaços fechados ou mesmo galerias de arte e museus. Onde for executada uma performance, o espaço fará parte desta, ele é absorvido, recomposto e reestruturado.
Operar o tempo
Por fim, o tempo, essencial à performance. A sua "obra de arte" está no seu desenvolvimento temporal, é processo, é presente, momento, instante. No decorrer da performance, o artista opera o tempo, em si e no público, cria momentos, situações, acontecimentos. A partir da ação cria uma nova lógica temporal que se extinguirá ao fim do seu trabalho, transportando a performance do presente para o passado, da sua experiência viva à memória.
Todos esses elementos necessários são realmente constantes. Mesmo havendo performances com mudanças estruturais, como a transferência da ação do artista para o público ou a midiatização do público, como é o caso da vídeo-performance, sempre teremos envoltas as relações de corpo, ação, público, espaço e tempo.
Para finalizar, quero pontuar aqui uma característica que acredito ser essencial para um trabalho ser uma performance. Hoje vemos muitas intervenções urbanas ou os mais diversos trabalhos que podem possuir os elementos necessários citados acima, mas que não são necessariamente performance.
Os resquícios
Pois bem, acredito que exista uma intenção de performance, ou seja, uma consciência do artista de produzir a significação do seu trabalho a partir da sua ação proposta. Em performance, a significação é construída no agir temporal, no presente da ação e não somente no ato. Exemplificando: um artista faz uma intervenção urbana pendurando espelhos em árvores de uma praça. Será possível considerar performance se a ação dele, o pendurar os espelhos na árvore, for o fator significante do seu trabalho. Neste caso, os espelhos pendurados nas árvores, após a ação, são resquícios da performance. No caso contrário, os espelhos nas árvores são o fator de significação, a ação só foi um meio necessário e sem peso significativo para o seu trabalho. Ou seja, não se configura uma performance.
*Artista da performance e DJ Fernando Ribeiro cursa a Especialização em Estética e Filosofia da Arte na UFPR e ministra o curso Performance Art nas Artes Visuais, no Centro Cultural Solar do Barão.



