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Com direção de Caetano Vilela, Travesties fez sua estreia nacional no Festival de Curitiba | Ernesto Vasconcelos / Divulgação
Com direção de Caetano Vilela, Travesties fez sua estreia nacional no Festival de Curitiba| Foto: Ernesto Vasconcelos / Divulgação
  • Cena da peça Travesties, a primeira da Companhia de Ópera Seca sem Gerald Thomas na direção
  • Atores em cena da peça Travesties

Aproximar arte e política usando como contexto a Revolução Russa de 1917. O texto setentista do britânico Tom Stoppard ganha vida e tiradas contemporâneas nas mãos do diretor Caetano Vilela. A peça Travesties encenada pela Companhia de Ópera Seca questiona a todo momento o papel do artista e sua função na sociedade, assim como a importância da Revolução nas artes. O bom público presente pode conferir um espetáculo de luzes, sons e, principalmente, grandes atuações nos dois dias em que a peça esteve em cartaz no Teatro Guaíra.

A trama se passa durante a Primeira Guerra Mundial em Zurique. Na cidade suíça viviam o revolucionário russo Lênin, o escritor irlandês James Joyce e o precursor do Dadaísmo Tristan Tzara. O desenrolar da história acontece a partir das memórias do encontro que o funcionário da embaixada britânica em Zurique Henry Carr teve com estas personalidades, sempre com clara influência da obra A Importância de Ser Prudente, de Oscar Wilde. Os cenários escolhidos são a casa de Carr e a Biblioteca Pública da cidade, onde a peça começa com uma chuva de livros e referências ao movimento Dadá através das poesias obtidas dos recortes de jornais.

A partir deste momento a farsa expõe diferentes aspectos artísticos com pequenos conflitos que vão desde a utilização da arte como uma ferramenta de apoio crítico pelos revolucionários até a criatividade da poesia com preocupações estéticas. Os personagens bem caricatos ilustram exatamente esta diferença de pensamentos com algumas das figuras mais representativas da Europa na época.

Trazendo o contexto para a realidade atual, os atores brincam com a plateia em um momento da peça questionando quem é o grande artista curitibano. Rapidamente alguém responde "Leminski!" e ouve um bem-humorado "Leminski? Não conheço..." dito por Rodrigo Lopez, que interpreta Tzara. Na sequência o ator ainda pergunta "Diogo Portugal? Twittess?" provocando risos do público. Nem Lady Gaga foi poupada em uma das passagens de discussão sobre o Dadá.

As quase três horas de espetáculo são interrompidas por um intervalo de 15 minutos que diverte boa parte dos presentes. De uma forma engraçada, o público é convidado a "dar uma volta" enquanto ouve um resumo de uma obra de Karl Marx que, na verdade, é utilizada como parte da brincadeira.

A parada antes das últimas cenas também questiona se o público está entendendo o que se passa no palco. O tema e a duração talvez possam ser vistos como problemas principalmente para os menos familiarizados com o teatro ou simplesmente não tão assíduos frequentadores das aulas de História. É justamente por esse motivo que merecem ainda mais destaque a iluminação de Caetano Vilela e o trabalho dos atores Germano Melo, Roney Fachinni, Rodrigo Lopez, Manoel Candeias, Roberto Borges, Fabiana Gugli, Patrícia Dinely e Anette Naiman que prendem a atenção do público do início ao fim.

Com a explosão da Revolução Russa em 1917, a peça se encaminha para o final após a resolução dos conflitos criados durante a trama entre os personagens. Um diálogo entre Carr e a bibliotecária Cecily encerra a trama antes da "Revolução" final interpratada pelos Beatles e que casa perfeitamente com toda a temática da peça. Ao público só restou aplaudir o primeiro trabalho da Companhia de Ópera Seca sem a direção de Gerald Thomas.

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