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Jornalismo

Relato da vida de pessoas “invisíveis”

O livro Dignidade! reúne textos de nove escritores, que contam o trabalho da ONG Médicos sem Fronteiras no tratamento de doenças negligenciadas pelos governantes e a indústria farmacêutica

A menina Sonia Veizaga na janela sem vidro de sua casa: como os pais e irmãos, ela tem Doença de Chagas | Vânia Alves / Divulgação
A menina Sonia Veizaga na janela sem vidro de sua casa: como os pais e irmãos, ela tem Doença de Chagas (Foto: Vânia Alves / Divulgação)

Nove escritores de diferentes países foram convidados para conhecer o trabalho da ONG Médicos sem Fronteiras em nove diferentes lugares do mundo. O objetivo: mostrar casos de doenças negligenciadas por governantes e pela indústria farmacêutica. O resultado são histórias comoventes que foram reunidas no livro Dignidade!. Lançado primeiro na Itália, em outubro de 2011, a publicação chega agora ao Brasil pela editora Leya e deve ser traduzida ainda para outros idiomas.

ÁUDIO: Ouça trechos da entrevista com Eliane Brum

A coletânea, organizada pelo escritório da entidade na Itália em comemoração aos 40 anos da organização humanitária, reúne textos do Nobel de Literatura, o peruano Mario Vargas Llosa; da jornalista e escritora brasileira Eliane Brum; do italiano Paolo Giordano; da irlandesa Catherine Dunne; da espanhola Alicia Giménez Bartlett; do norte-americano James A. Levine; do turco Esmahan Aykol; da indiana Tishano Doshi; e do congolês Wilfried N’Sondé. Todos puderam escolher o formato para contar suas histórias – reportagem, ficção e ensaio.

A gaúcha Eliane Brum visitou a região de Narciso Campero, que fica no sul do departamento de Cochabamba, na Bolívia, e é assolada pela Doença de Chagas. Transmitida pelas fezes de um inseto, o barbeiro, que os bolivianos chamam de vinchuca, a doença pode provocar problemas cardiovasculares, neurológicos e gastrointestinais e levar o infectado à morte.

Eliane conta que quando recebeu o convite pensou em escrever uma ficção, mas relata que ao se deparar com a realidade das pessoas que ela conheceu, mudou os planos e fez uma reportagem. A jornalista confessa que o trabalho teve um grande impacto em sua vida. Ao ouvir o apelo de uma menina de 11 anos, Sonia Cotrina Veizaga, "por favor, não me deixe morrer", a jornalista, que tem 25 anos de carreira, percebeu que contar a história da garota e sua família e de outros camponeses infectados pela doença seria a única chance de tornar aquelas pessoas "visíveis" para o mundo.

Eliane viajou em março de 2011 para a Bolívia. Ela ficou sete dias na região de Narciso Campero. A população é composta por camponeses, de origem indígena, que falam quéchua. A maioria não fala espanhol.

"Deixar-se cair"

As casas de adobe facilitam a entrada das vinchucas – que em quéchua significa "deixar-se cair". Ao anoitecer, os insetos pousam sobre as pessoas e sugam seu sangue. Satisfeitos, defecam. Ao coçar a picada, as vítimas das vinchucas facilitam a entrada do parasita Trypanosoma cruzi, que provoca a doença. O sanitarista brasileiro Carlos Chagas foi quem identificou a doença no começo do século passado. Em suas pesquisas, Chagas conseguiu mostrar o ciclo completo do mal – vetor, hospedeiros, manifestações clínicas e a epidemiologia. O Benzonidazol é o único medicamento usado para combater a doença e é fabricado somente no Brasil.

"Chagas e as doenças com as quais os Médicos sem Fronteiras trabalham são doenças negligenciadas. Doenças que atingem os mais pobres. E por atingir os mais pobres a indústria farmacêutica não tem interesse em fazer pesquisa, fazer investimento, porque essas pessoas não terão dinheiro para pagar. São doenças com as quais o mundo não se importa", relata Eliane.

Bate-papo

A jornalista participa na próxima terça-feira, às 19h30, do encontro Sempre um Papo, no Teatro Regina Vogue. Eliane vai falar sobre jornalismo e lançar o livro Dignidade!.

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