Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Visuais

Retratos da transgressão

Publicação traz fotografias de Madalena Schwartz feitas na década de 1970, quando ela se interessou pelo grupo Dzi Croquettes

Travesti Ludmila (Danton) integrante do grupo Dzi Croquettes: transformismo ajudou Madalena a aprimorar suas técnicas de luz | Reprodução
Travesti Ludmila (Danton) integrante do grupo Dzi Croquettes: transformismo ajudou Madalena a aprimorar suas técnicas de luz (Foto: Reprodução)
Carlinhos Machado, do Dzi Croquettes: Madalena estabeleceu uma forte relação de amizade com o grupo |

1 de 8

Carlinhos Machado, do Dzi Croquettes: Madalena estabeleceu uma forte relação de amizade com o grupo

Os Dzi Croquettes, considerados uma entidade na década de 1970, são os protagonistas de Crisálidas |

2 de 8

Os Dzi Croquettes, considerados uma entidade na década de 1970, são os protagonistas de Crisálidas

A fotógrafa aproximou-se do grupo e de outros profissionais do teatro para aprimorar técnicas de luz |

3 de 8

A fotógrafa aproximou-se do grupo e de outros profissionais do teatro para aprimorar técnicas de luz

Elke Maravilha é uma das figuras públicas fotografadas por Madalena |

4 de 8

Elke Maravilha é uma das figuras públicas fotografadas por Madalena

Os travestis Ludimila (Danton) e Carlos: apartamento da fotógrafa servia de estúdio improvisado |

5 de 8

Os travestis Ludimila (Danton) e Carlos: apartamento da fotógrafa servia de estúdio improvisado

Discreta, Madalena não gostava de ser entrevistada ou fotografada. Esse é um dos raros registros dela em ação |

6 de 8

Discreta, Madalena não gostava de ser entrevistada ou fotografada. Esse é um dos raros registros dela em ação

Madalena conheceu Ney Matogrosso em 1973.

7 de 8

Madalena conheceu Ney Matogrosso em 1973.

Roberto de Rodrigues, do Dzi Croquettes, clicado antes de entrar em cena. Sem título: Imagens do livro, da década de 1970, foram organizadas pelo filho Jorge Schwartz |

8 de 8

Roberto de Rodrigues, do Dzi Croquettes, clicado antes de entrar em cena. Sem título: Imagens do livro, da década de 1970, foram organizadas pelo filho Jorge Schwartz

Quem vê a imagem da fotógrafa Madalena Schwartz (1921-1993) logo no início do recém-lançado Crisálidas, uma compilação de imagens realizadas por ela na década de 1970, organizada por um de seus filhos, Jorge Schwartz, custa a acreditar que a senhora discreta e elegante possa ter sido a responsável por imagens tão surpreendentes de artistas e transformistas, em uma São Paulo que tinha no centro da cidade sua efervescência cultural. Considerada pelos críticos a "dama do retrato brasileiro", a húngara, que emigrou duas vezes (para a Argentina e para o Brasil), é uma das fotógrafas do acervo do Instituto Moreira Salles – aproximadamente 16 mil negativos estão na entidade, responsável pela edição da obra.

Logo que chegou ao Brasil com a família, na década de 1960, vinda de Buenos Aires, Madalena comandou com o marido Ernesto a lavanderia Irupê, instalada no centro de São Paulo. Os passeios pela avenida São Luís e pelas ruas Augusta e Consolação, além da vizinhança e dos clientes anônimos, boêmios e artistas, ajudaram a fotógrafa a compor e a descobrir o universo que a interessava. Ela começou despretensiosamente em 1966, aos 45 anos, um curso no Foto Cine Clube Bandeirantes (próximo de sua casa), após se empolgar com a aquisição de uma câmera fotográfica pelo filho Julio.

A concentração de artistas e intelectuais da região fez com que Madalena conhecesse e se aproximasse de seus retratados. Um belo dia, pediu que um cliente cativo da lavanderia, o escritor Ignácio de Loyola Brandão, visse suas fotos. A amizade possibilitou que ela recebesse convites para trabalhar em diversas revistas nacionais, caminho que a levou à TV Globo, onde atuou como retratista entre 1979 e 1991. Ela é, aliás, conhecida por fotografar escritores, músicos e intelectuais, como Clarice Lispector, Caetano Veloso e Sérgio Buarque de Holanda (reunidas na obra Personae, de 1997, da Companhia das Letras).

Transformismo

Entretanto, não era essa fase que o filho Jorge queria mostrar, mas sim, a dos idos da década de 1970, quando ela se aproximou dos profissionais de teatro para aprimorar suas técnicas de luz e se encantou pelo mundo do transformismo. "Esse é um núcleo dentro do trabalho da minha mãe que eu achei que seria necessário o público conhecer. Faz um conjunto coerente com o restante da sua obra", contou Schwartz em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo do Museu Lasar Segall, em São Paulo, onde é diretor.

Além de artistas anônimos e travestis, a publicação traz fotos de Ney Matogrosso, ainda no grupo Secos & Molhados, e tem como protagonista os integrantes do Dzi Croquettes, que fizeram história com seus espetáculos musicais e de humor, com homens de cílios postiços e maquiagem que desafiaram a ditadura (o grupo durou de 1972 a 1976, e também foi retratado recentemente em um documentário homônimo de Tatiana Issa e Raphael Alvarez). As imagens do livro, todas em preto e branco, foram feitas nas coxias dos teatros ou no estúdio improvisado no edifício Copan, onde ficava o apartamento de Madalena, no 30.º andar. "A iluminação era ótima e ela tinha uma boa máquina. Isso era o suficiente para ela trabalhar", conta Jorge.

Reconhecimento

Jorge Schwartz acredita que a mãe não tinha consciência da artista que era, e nem pousava como tal. O único registro do livro que mostra Madalena fotografando, segundo o filho, é uma das raras sequências dela trabalhando. "Ela era super baixinha, pequenininha mesmo, e muito discreta. Não gostava de se expor em público e de ser entrevistada. Ela era muito avessa a tudo isso, tinha a fotografia como seu ganha pão, não se achava superior ou especial como muitos artistas. Ela soltava a sua criatividade através da lente."

Crisálidas

Madalena Schwartz. Organização de Jorge Schwartz. Instituto Moreira Salles. 136 págs., R$ 80.

Veja algumas fotos publicadas no livro

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.