
Rimbaud (1854-1891) é o tipo de figura que a indústria cultural de hoje adoraria explorar. É até inexplicável que não o façam. Jovem e rebelde, escreveu toda a poesia pela qual é lembrado entre os 16 e os 19 anos.
Com 19 (uma criança para os padrões atuais, mas definitivamente um adulto na segunda metade do século 19), abandonou a literatura para virar mercador de armas na África e nunca mais escreveu outro verso. Nunca. Mais. Dizem que a vida era pouco para Rimbaud.
Há questão de semanas, o Brasil entrou para o grupo de países que podem ler, na língua pátria, tudo o que produziu o "poeta das sensações". Foi quando a Topbooks publicou Correspondência, terceiro e último volume das obras completas, com tradução de Ivo Barroso, que já havia vertido ao português a prosa poética e a poesia de Rimbaud.
Nesta semana, a Companhia das Letras publica Rimbaud A Vida Dupla de um Rebelde, um ensaio biográfico de Edmund White. O livro é curioso porque o autor não tem pudores de se incluir na história e começa a narrativa lembrando como descobriu o poeta num internato no estado de Michigan, em 1956.
Jean Nicolas Arthur Rimbaud tem um magnetismo raro de se encontrar em escritores. Com uma personalidade explosiva e uma disposição incomum para aventuras sexuais e literárias entre outras , o poeta seria o rockstar oitocentista, o sujeito que, se vivesse no presente, estaria quebrando quartos de hotel e levando a vida como se o mundo fosse acabar num barranco.
Seria talvez uma mistura de Mick Jagger (apesar da idade avançada) com J. D. Salinger (já morto, mas uma referência de artista recluso). O nonsense da comparação é revelador: não existem equivalentes para Rimbaud. Nenhum personagem atual consegue ombrear com o autor atordoa leitores com "O Barco Bêbado" e oferece epifanias com "Iluminações". No primeiro, o adjetivo "bêbado" aparece na tradução de Augusto de Campos. A versão de Ivo Barroso prefere "ébrio".
Radicalidade
Sobre o poema, Campos afirmou que é "Um texto-ícone que funde o visionário e o visualista, sobrepondo à precisão imagística o desregramento de todos os sentidos preconizado pelo poeta". As aspas foram tiradas da introdução de Rimbaud Livre (Perspectiva), um livro raro que compila 11 poemas e se encontra somente em sebos.
O poeta Fabrício Corsaletti (Esquimó), que adora Rimbaud, se interessa pela radicalidade do artista. "Ele nunca dá um passo atrás nem faz concessões", diz. As atitudes do simbolista francês, com frequência, são mais exploradas do que seu legado literário.



