
A paisagem exuberante do Rio de Janeiro como locação de histórias de amor narradas por 11 diretores brasileiros e estrangeiros é a ideia de fundo do filme Rio, Eu Te Amo, que estreia hoje nos cinemas brasileiros (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).
Este é o terceiro longa-metragem da franquia Cities of Love, iniciada em 2006, que já filmou o mesmo tema nas cidades de Paris e Nova York. O filme é composto por dez narrativas curtas de cerca de sete minutos cada. Aos diretores, foi dada a liberdade na composição dos roteiros, respeitando o tema e a geografia do projeto: histórias de amor ambientadas na Cidade Maravilhosa.
As cenas, que acontecem simultaneamente durante dois dias, são costuradas com cenas de transição dirigidas por Vicente Amorim (Corações Sujos) e estreladas pelos atores Cláudia Abreu e Michel Melamed, que se relacionam com personagens das outras histórias.
"A missão foi criar, da melhor forma possível, uma sensação de unidade e fluidez no filme, uma espécie de rede de afeto para mostrar que todos os personagens de todos os segmentos estavam conectados e que todo tipo de amor é possível no Rio de Janeiro", contou Amorim, em entrevista coletiva na última segunda-feira.
Entre os diretores estão Andrucha Waddington (Os Penetras), Carlos Saldanha (Rio), Fernando Meirelles (Cidade de Deus), John Turturro (Amante a Domicilio), Guillermo Arriaga (roteirista de Babel e Amores Brutos), Im Sang-soo (A Empregada), José Padilha (Tropa de Elite), Nadine Labaki (Caramelo), Paolo Sorrentino (A Grande Beleza) e Stephan Elliott (Priscilla , a Rainha do Deserto).
No elenco, atores como Fernanda Montenegro, Rodrigo Santoro, Vincent Cassel, Emily Mortimer, Marcelo Serrado, Harvey Keitel, Vanessa Paradis entre outros dão vida a personagens que experimentam romances e dramas de amor em locações como a Praia de Copacabana, o Pão de Açúcar, as ruas do Morro do Vidigal e o Theatro Municipal.
A canção tema do filme foi escrita por Gilberto Gil e na trilha sonora há músicas de Chico Buarque, João Donato e outros. O filme será lançado em 250 salas brasileiras e tem uma estratégia de distribuição internacional em vários países da Europa, Ásia e América do Norte.
Inútil paisagem
A produção do filme foi cercada por uma polêmica. Em julho, a Arquidiocese do Rio de Janeiro vetou o uso da imagem do Cristo Redentor no curta "Inútil Paisagem", dirigido por José Padilha. No filme, o personagem interpretado por Wagner Moura reclama asperamente com o monumento durante um voo de asa-delta. A Arquidiocese, que detém os direitos sobre a imagem, vetou a cena, mas, depois de muita negociação, a sequência acabou sendo incluída a tempo no filme.
"O Zé [Padilha] teve liberdade criativa, e essa cena acabou ganhando muito destaque. Mas nunca imaginamos que a Igreja fosse ter esse tipo de postura, o filme não é religioso. Foi difícil, mas conseguimos incluir o episódio de volta. Graças a Deus", conta o produtor Pedro Buarque de Hollanda.
"Pratas da casa" são destaques em filme solar
Grandes locações, ótimos atores, bons diretores e roteiros fracos. A esperada versão brasileira da franquia "cidades do amor" não decepciona por completo. Sem patriotada, é melhor que os tolos e insossos filmes anteriores sobre Paris e Nova York. O resultado final, porém, dá impressão de uma boa ideia que poderia ter sido melhor conduzida.
Em um filme sobre o amor no Rio, faltou capturar o "carnaval no fogo", romantismo sensual, ancestral, formador da poesia brasileira. Sentimento que me invadiu e a muita gente boa na primeira visita à cidade.
Para fazer justiça, alguns curtas nacionais chegam bem perto, com destaque para "A Musa", dirigido por Fernando Meirelles, delírio erótico e percussivo em Copacabana, que traduz o clima babilônico do bairro, da loucura coletiva do lirismo à opera bufa em segundos. O ponto alto do conjunto de filmes.
Outro bom momento é o curta de Carlos Saldanha, que fugiu da estética "montanha, céu e mar", e usa como cenário o Theatro Municipal para contar uma boa história, lindamente fotografada.
Também tem valor o polêmico curta de José Padilha, um rápido e divertido exercício de iconoclastia com potencial para virar meme de internet. O episódio de Andrucha Waddington tem bom argumento, porém, peca pelo tom caricatural, a começar pelo figurino de "caroneiro de trem da Grande Depressão" das mendigas.
Dos estrangeiros, Paolo Sorrentino e John Turturro dão grandes derrapadas. O coreano Im Sang-soo põe um bloco de vampiros no Morro do Vidigal quem é do trash se diverte, quem não é fica constrangido. "Milagre", de Nadine Labaki, é uma fábula cristã fofinha e o mexicano Guillermo Arriaga faz o filme de sempre (brigas, apostas e mutilações), em sete minutos. O melhor "gringo" é o filme de Stephan Elliott, uma fábula gay-psicodélica no Pão de Açúcar.
No todo, Rio, Eu Te Amo é um filme ameno, ensolarado, com cara de cartão postal "com arte". Ideal para uma tarde chuvosa em Curitiba ou para uma sessão ao ar livre em algum cineclube hipster na próxima primavera europeia. O jornalista viajou a convite da Conspiração Filmes.





