
Por que você sentiu necessidade de contar esta história?
Foi uma sugestão do próprio público. Quando o livro [Roberto Carlos em Detalhes] foi proibido, participei de muitos eventos literários, e quando contava o caso, sempre vinha alguém sugerir que eu escrevesse a respeito. Hoje o debate avançou e o livro contribui com o exemplo do meu caso para mostrar a situação absurda que passa quem faz pesquisa histórica no Brasil.
Você diz no livro que não conhecia o funcionamento da Justiça no país. Qual a sua impressão agora? Eu nunca tinha sido processado nem processado ninguém. Como historiador, eu sei que, desde o tempo colonial, a Justiça sempre favoreceu os poderosos. Eu pude comprovar na prática, me deparando com uma força maior. O livro também é necessário para dizer como isto se dá no Brasil atual. Serve como um registro e um alerta.
Você acha que um dia a sua biografia será liberada?
Sem dúvida. Eu não sei por quanto tempo o Roberto Carlos vai insistir na proibição, mas em algum momento vai ficar insustentável. Algum amigo ou conselheiro um dia há de chegar para ele e dizer: "Roberto, não seja o último censor do país".
A legislação está prestes a mudar, e meu livro será o último livro proibido no país. Isso em um tempo em que a sociedade não tolera mais a censura. Eu acho que ele próprio deve tomar a iniciativa.
Conhecendo-o em detalhes, é possível crer nisso?
Eu espero que sim. Seria bom para a imagem dele. Um bem para todos nós, seus fãs. Ele conseguiu com muita dificuldade o título de rei por tudo o que ele fez de bonito para a música brasileira. Ele não merece carregar este título de último censor do país.
Biografia
O Réu e o Rei
Paulo Cesar de Araújo. Companhia. das Letras, 521 págs., R$ 35.




