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Idéias

Rocha Pombo, a solidão de um historiador

Veículos, armas, mapas e batalhas on-line são os principais atrativos de "Halo 3" | Divulgação
Veículos, armas, mapas e batalhas on-line são os principais atrativos de "Halo 3" (Foto: Divulgação)

A viagem intelectual empreendida por José Francisco da Rocha Pombo de Morretes (sua terra natal) a Curitiba, depois, até o Rio de Janeiro, resultou na produção de obras altamente significativas. Em 1900, ano do quarto centenário do descobrimento, publica O Paraná no Centenário, a História da América e o seu romance mais marcante intitulado No Hospício; em 1905 inicia a coletânea em dez volumes sobre a História do Brasil e em 1928 publica a sua História Universal. Foram obras marcantes, destacadas por Brasil Pinheiro Machado, Wilson Martins e Cecília Maria Westphalen.

Nas obras citadas, como em todos os outros livros e artigos, Rocha Pombo além de historiador, expressou saberes de professor, jornalista, advogado, filósofo, romancista, poeta, prosador e dicionarista. Na vida política foi deputado provincial por Castro, depois deputado pelo Paraná e membro eleito da Academia Brasileira de Letras.

Entretanto, ainda que dono de um saber universal, Rocha Pombo construiu toda uma vida acadêmica à parte de muitos intelectuais de renome regional, criando e enfrentando desafios que o distanciaram do saber comum. Em plena sociedade escravista foi um abolicionista e um empolgante republicano no período imperial. Mesmo que tivesse o talento reconhecido por figuras como Romário Martins e Nestor Victor, suas inquietudes, críticas e ousadias o estimularam a passar pelas experiências do romantismo, simbolismo e do modernismo, convivendo e flertando com o anarquismo e com a corrente utópica do socialismo.

As influências adquiridas no transcurso dessa longa trajetória, são fundamentais para o entendimento do conjunto de sua obra. No romance O Hospício, Rocha Pombo defende uma sociedade socialista utópica, sem governo, sem propriedade, sem consumo, enfim, uma sociedade ideal. Nesse sentido, em suas obras como historiador, de certa forma, faz perfilar esta sua visão de mundo, ligada ao cotidiano do povo, a educação, costumes, opiniões, crenças, legislação, instituições, moral e riqueza. Portanto, este mundo visionário defendido por Rocha Pombo o distancia e o isola, mas ao mesmo tempo o destaca no conjunto da "inteligenzia" regional.

Na História do Paraná é importante observar que mesmo sendo uma das últimas províncias criadas (1853), o Paraná foi o primeiro no Brasil a ter a idéia de Universidade. Em 1892, Rocha Pombo apresentou o seu projeto de fundação da Universidade do Paraná, chegando a lançar a pedra fundamental do prédio da instituição na Praça Ouvidor Pardinho. Entretanto, o projeto fracassou pois não teve o necessário apoio político para a liberação dos recursos que já haviam sido concedidos.

Em 1980, recebi da Fundação Cultural de Curitiba cópia de um texto datilografado, atribuído a Rocha Pombo.

Na verdade, era quase que o esqueleto de um texto, visto que me foi informado que grande parte do conteúdo havia sido mutilada, numa espécie de censura aos relatos do autor, o qual expunha o comportamento de determinadas lideranças e famílias da elite curitibana durante o período revolucionário no Paraná. Ainda assim, a apresentação foi feita e o livro publicado. E no livro, Rocha Pombo apresenta corajosamente, em pleno calor do evento, seu julgamento severo de personagens, principalmente aquelas ligadas à tragédia do km 65 da Estrada de Ferro Curitiba/Paranaguá, no qual foram chacinados o Barão do Cerro Azul e seus companheiros de ideal.

Rocha Pombo, no ano em que se celebram os 150 anos do seu nascimento, deve ser resgatado como um dos maiores dos nossos historiadores. Mesmo isolado, criticado e abandonado soube ser um homem universal.

Carlos Roberto Antunes dos Santos - professor do Dep. de História da UFPR.

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