
Apaixonado por Romeu e Julieta, de William Shakespeare, o diretor teatral João Fonseca, que tem uma carreira ativa no Rio de Janeiro, onde dirige o grupo Os Fodidos Privilegiados, quebrava a cabeça para idealizar uma forma criativa de levar a obra aos palcos com sua assinatura. Acabou cedendo ao trabalho de outro, o norte-americano Joe Calarco, cuja adaptação, (Shakespeares R & J, de 1997), requer quatro garotos como elenco e se passa toda numa sala de aula.
"Diante de tantas versões incríveis, queria fazer algo simples, e esta permite isso. É um trabalho mais lúdico", contou Fonseca à Gazeta do Povo. O diretor tem se especializado em montagens centradas num jogo entre os atores, e procura reduzir o volume de objetos no cenário, mais limpo.
Assim chegou ao Brasil R&J de Shakespeare Juventude Interrompida, com estreia no início do ano passado (veja o serviço completo do espetáculo no Guia Gazeta do Povo). Em uma escola interna católica da Inglaterra, num contexto repressivo, colegas de turma se reúnem secretamente para ler a tragédia do bardo inglês. As falas, ao mesmo tempo cômicas e arrebatadoras, estimulam o grupo a encená-las, também escondidos. Eles fazem isso sem nunca sair de cena, resultando numa "peça dentro da peça", tão cara à obra shakespeariana.
Para dar conta da montagem, os meninos usam apenas os objetos disponíveis à mão, como réguas que servem como espadas , seus casacos, como saias etc.
Quando encarnam Julieta e sua ama essa última, responsável pelas principais tiradas cômicas da peça , eles se esforçam para evitar os trejeitos tão batidos do teatro de travestimento. "Eles não pensam em imitar gays e nem mesmo mulheres, e sim viver os personagens. Cada um carrega uma sensibilidade feminina."
Por se basear na "peça dentro da peça", o texto final acaba sendo quase todo "90%", diz Fonseca o original de Romeu e Julieta.
Jovens
"O texto fala de uma paixão juvenil. E me interessa que os jovens vão ao teatro, é um público que faz falta", desabafa o diretor.
Sugerido apenas para maiores de 14 anos, o espetáculo retrata a descoberta sexual dos amigos, que usam o texto de Shakespeare para investigar e questionar suas sensações.
Se o espectador achar tudo um tiquinho pesado, não pode debitar tudo da conta de Fonseca que trouxe O Casamento, de Nelson Rodrigues, durante o último Festival de Teatro de Curitiba, um espetáculo considerado por muitos como um exagero.
Não, Romeu e Julieta é assim mesmo: o pai da protagonista, indignado com a recusa da filha em casar-se com um conde, pergunta se ela já aprendeu a abrir as pernas.
Quem interpreta os quatro cheios de energia são João Gabriel Vasconcellos, Pablo Sanábio e Felipe Lima. Rodrigo Pandolfo, escalado para a novela Cheias de Charme, foi substituído por Geraldo Rodrigues.
Com tradução de Geraldo Carneiro e cenário de Nello Marrese, a peça tem figurinos de Ruy Cortez, luz de Luiz Paulo Nenen e trilhas de João Bittencourt e André Aquino. Fonseca não virá a Curitiba porque está envolvido com os ensaios de Não sobre Rouxinóis, no Rio de Janeiro, peça de Tennessee Williams inédita no Brasil.



