Uma novidade quase tão impactante quanto a primeira novela em cores exibida no Brasil O Bem Amado, de 1973 começou no último dia 13 em Curitiba, quando foram gravadas as primeiras cenas do curta-metragem Amor na Corda Bamba, do "Casos e Causos" quadro de teledramaturgia do programa Revista RPC, exibido pela RPC TV aos domingos, logo após o Big Brother Brasil. Trata-se do primeiro filme rodado no Brasil em 3D, exclusivamente com atores de carne e osso a primeira produção nacional a usar equipamento semelhante foi a animação Brasil Animado, lançada em fevereiro, que também tem imagens "reais".
O curta, estrelado pelo ator curitibano Alexandre Nero, vai ao ar amanhã na Revista RPC só que no formato convencional, porque as emissoras da tevê aberta brasileira ainda não têm como pôr no ar o sinal em 3D, sem que haja perda da qualidade da transmissão em alta definição. Mas você vai poder vê-lo em breve nos cinemas, no novo sistema, graças a uma parceria entre a tevê paranaense e os exibidores.
A tecnologia é a mesma do moderno cinema em 3D, utilizada por grandes produtoras, como a Park Road do diretor neozelandês Peter Jackson (da saga O Senhor dos Anéis). E também já começa a conquistar o cinema de arte, caso do aclamado Pina, de Wim Wenders, sobre a dançarina e coreógrafa alemã Pina Bausch, lançado no último Festival de Berlim. "Nossa empresa é a pioneira em 3D no mundo", informa Tiago Velleca, gerente de desenvolvimento de negócios da SGO, companhia espanhola que criou o Mistika, software de edição e pós-produção mais usado nas gravações em estéreo, como o 3D é chamado no jargão técnico. Ele e o diretor de desenvolvimento da empresa, o espanhol Sergio Ochoa, vieram pessoalmente a Curitiba para operar o equipamento, em conjunto com profissionais de outra empresa, a S3D, e da RPC TV.
A revolucionária dobradinha da SGO com a RPC TV nasceu durante um workshop dos espanhóis na tevê paranaense: "Queríamos obter informações sobre essa tecnologia em Curitiba, e organizamos esse workshop", conta Carlyle Ávila, diretor de produção e programação da RPC TV. "Eles se ofereceram para mostrar o equipamento, e nós sugerimos a gravação de um curta para o Casos e Causos."
A RPC tinha na manga um roteiro assinado pelo publicitário Marcos Pamplona, sobre um equilibrista que tenta bater o recorde sul-americano ao mesmo tempo em que se debate entre se arriscar ou não em um relacionamento. As cenas na corda bamba, gravadas no alto das "torres gêmeas" da Avenida Manoel Ribas, seriam um prato cheio para a nova tecnologia, como explica um dos diretores do filme, Marcus Werneck: "As imagens em 3D vão permitir que o público experimente a sensação de vertigem e profundidade, como se estivesse na corda bamba junto com o Caio, o personagem principal".
De fato, a experiência de assistir às cenas por trás dos óculos especiais, tanto em um moderno televisor como na tela do cinema, é única. Mas a produção é muito mais complexa, cara e demorada, e cheia de particularidades. "Na tevê, normalmente a edição é mais ágil, os movimentos mais frenéticos; na gravação em 3D, os planos são mais longos e abertos, com uma edição mais lenta", explica Werneck. "Os movimentos são mais contidos, porque tem muita coisa em quadro. Também é preciso muito mais atenção nos planos secundários, porque o espectador assiste com muito mais atenção e tudo está em foco."
Para os atores também é mais difícil: "Se gravar cinema já é demorado, rodar um filme em 3D demora três vezes mais", relata Alexandre Nero. "São duas câmeras juntas, que precisam estar totalmente sincadas para dar o efeito. Concordo com quem diz que 3D significa tripla dificuldade." Luiz Felipe Leprevost, que faz o melhor amigo do personagem de Nero no curta, assina embaixo: "É bem mais complicado, a gente tem que gravar quase como se fosse teatro, porque não dá para confiar que vai haver um corte depois. Cada ajuste de câmera requer mudanças sinistras...".
Porém, com o aprimoramento da tecnologia e o custo cada vez menor dos televisores em 3D, tudo indica que a televisão bidimensional está com os dias contados. "Filmes, novelas, shows, tudo é mais interessante em 3D", afirma Sergio Ochoa. "E os esportes, então? Você vai ver uma partida de tênis como se estivesse dentro da quadra! As Olimpíadas de Londres já vão ser transmitidas em 3D, assim como a Fórmula Indy e o GP de Mônaco de Fórmula 1...". "Certamente vai se popularizar", acredita Lelo Penha, que dirigiu o curta junto com Werneck. "Esta tevê LCD de 47 polegadas, com tecnologia 3D, por exemplo, que usamos como monitor, custava R$ 6 mil há três anos. Agora dá para comprar por pouco mais de R$ 2 mil." Alexandre Nero também acha que, embora trabalhosa, a nova técnica veio para ficar: "Não vejo mais motivo para se rodar um filme em 2D...".
Serviço:
Amor na Corda Bamba vai ao ar amanhã (em 2D) na Revista RPC, logo após o Big Brother Brasil.



