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Quando o porão era o limite

No momento em que foi lançado, há exatos 20 anos, Nevermind causou uma revolução. Ao tomar de assalto as paradas de sucesso em janeiro de 1992, na época massivamente ocupadas por artistas do pop, country e R&B, o Nirvana fez Michael Jackson, até então soberano com seu Dangerous, dançar o moonwalk ao som de "Smells like Teen Spirit".

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Nevermind dissecado

Nevermind não foi o primeiro disco do grunge; tampouco o passo inaugural da cena de Seattle; nem sequer foi o primeiro álbum do Nirvana. Mas foi ele quem pulverizou para sempre as fronteiras entre o alternativo e o mainstream – e isso cinco anos antes da massificação da internet. Com informações pinçadas da biografia de Kurt Cobain (Mais Pesado Que o Céu, de Charles R. Cross) e da revista Billboard, confira a seguir um raio-x do disco que mudou a história do rock.

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Quando Amy Winehouse morreu, há dois meses, a dita maldição dos 27 anos voltou a assombrar. Artistas que partiram dessa para uma melhor quando tinham a temida idade foram relembrados. Caso de Kurt Cobain, o loiro de cabelo desgrenhado que declarou ao mundo sua insatisfação em três discos, e terminou de fato estourando os miolos em 5 de abril de 1994.

A diferença entre Kurt e outros que claudicaram quando a maturidade surgiu está na forma com que lidou com sua paranoia. O líder do Nirvana nunca escondeu seu descrédito na humanidade. No palco, debochava do próprio público, batendo palmas como um descoordenado. Em outro show, já depois de o disco Nevermind ter virado o que virou, mostrou seu pênis às câmeras. Mas, afinal de contas, o que era isso para um garoto que sofreu desde cedo com bullying quando essa palavra ainda nem existia, além de um tratamento à base de remédios fortes contra um suposto déficit de atenção e as mudanças constantes para a casa de parentes após o divórcio dos pais?

Mesmo o que virou clichê nos shows da banda – a quebradeira geral de instrumentos – fazia sentido. Não era embalagem, e sim adendo. Era víscera, conteúdo. Kurt Donald Cobain foi, enfim, o porta-estandarte de um gênero musical que, como ele, teve vida curta. Suas dores e inquietações eram como combustível. Sua ojeriza à fama, contraditoriamente virou sua marca indelével, vendida aos quatro cantos.

Perfeição

A despeito de sua insatisfação com o planeta Terra, Kurt era exigente quando o papo era música. A história do Nevermind, que completa hoje exatos 20 anos desde o seu lançamento, começa, na verdade, com Bleach (1989). O disco desagradou a Kurt e ao baixista Krist Novoselic, que já andavam meio borocoxôs devido à falta de público em seus shows. O culpado, segundo eles, era o então baterista Chad Channing, um dos que tentaram emplacar no Nirvana e não conseguiram. Aí surgiu Dave Grohl, a argamassa de Nevermind.

"Dave Grohl, sem dúvidas, foi o ponto forte para que o álbum tenha saído tão bom. Grohl tinha acabado de chegar na banda e, com todo seu talento, encaixou-se perfeitamente, dando a pegada que o Nirvana precisava", diz Marcos Vinícius de Souza Maia, 28 anos, dono de um site em homenagem ao grupo de Seattle. E, complementa o fã, se Dave era o que faltava, Krist era o companheiro equilibrado. Enquanto isso, Kurt bancava o perfeccionista.

Contrastes

O álbum mais pop do Nirvana é um reflexo de seu criador. Contrastando guitarras distorcidas e silêncio, ironia e sarcasmo, Nevermind não é um tapa, mas um soco de luva.

Lembre, por exemplo, de "Territorial Pissings", a sétima faixa. Na música mais punk de Nevermind, um baixo distorcido, uma guitarra suja e uma bateria cíclica constroem caminho para Kurt se esgoelar ao cantar "preciso achar um caminho, um caminho melhor". Por isso muita gente pensa como Marcos quando se questiona o porquê da adoração por essa obra, mítica desde a capa. "Nevermind tem uma grande carga de emoções e muita fúria. Sempre recorro ao disco nessas horas."

Já em "Something in the Way", que fecha o álbum, surge um Kurt melancólico, quase doce. Para gravar, exigiu que seus sussurros fossem captados. E na música, ainda há um violoncelo levemente desafinado, que cria uma sensação de angústia permanente. Porque nada era perfeito para Kurt, um homem que viveu entre luz e sombras, veias saltadas e sussurros.

"Acho que o álbum é como se fosse um grito do Kurt Cobain, dizendo ‘ei, escute o que tenho a dizer. Estou te ofendendo? Não importa, mas é assim que eu sou’", diz Maia, que ouviu a banda pela primeira vez em um especial da MTV, lá nos anos 1990.

Único

Difícil dizer o que seria o Nirvana hoje, se Kurt não tivesse encerrado abruptamente o seu périplo, Krist deixado a música em segundo plano e Dave Grohl não fosse um moleque travesso de 42 anos, símbolo de uma banda carismática como é o Foo Fighters.

Dizem que de tempos em tempos o mundo da música dá voltas, redescobrindo antigas referências – como o que aconteceu nos anos 2000 com a enxurrada de bandas que reviveram os anos 1980. A velha guarda do grunge, porém, segue sua toada, na pele de Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden. Mas vá falar para um fã que os ingleses do Yuck, por exemplo, podem ser a salvação do grunge e a resposta será como um mantra: "Outro Nirvana nunca existirá."

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