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A primeira imagem em que Ruy Castro pensou para o romance "Era no tempo do rei" foi a dos meninos Pedro e Leonardo fugindo pelos Arcos da Carioca. Mas nada levava à fuga triunfal, até que o escritor, já esquecido da idéia, viu que lá estavam os meninos, na Carioca, fugindo de guardas em pleno carnaval do Rio de Janeiro. Era só correr um pouco mais e chegariam sobre os arcos. Feito.

- Como escrever a história de um príncipe? Tinha que tirá-lo do palácio. No que esse passo inicial foi dado, a história começou a se contar sozinha. Fiquei impressionado com a autonomia que os personagens adquiriram, independentemente da minha vontade - conta o escritor.

O príncipe é Dom Pedro, filho de Dom João VI. O amigo Leonardo é o protagonista de "Memórias de um sargento de milícias", romance escrito por Manuel Antônio de Almeida, em 1852. Os Arcos da Carioca são os Arcos da Lapa de 1810, ano em que Pedro e Leonardo, ambos aos 12 anos, tornam-se amigos, quando o príncipe sai do Paço e se aventura pelas ruas da cidade. O encontro fictício, numa época e num tempo reais da História do Brasil, é a trama de "Era no tempo do rei", que, editado pela Alfaguara, chega às livrarias esta semana.

- A história se resumiria às peripécias de Leonardo e Pedro. Depois me ocorreu que ela teria muito mais densidade com um conflito político por trás, que só poderia ter como protagonista Carlota Joaquina. Passei mais de um ano lendo sobre a Corte no Brasil, sobre a monarquia portuguesa, as guerras napoleônicas. É um desvio do biógrafo, não tenho a capacidade de tirar uma trama inteira da minha cabeça. Preciso de uma base documental para deixar a imaginação correr - conta o escritor, jornalista e biógrafo de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda.

Castro leu muito e não parou de ouvir discos como "Música na Corte de Dom João VI" e ver filmes históricos, na habitual obsessão com o tema a que se dedica a cada momento. Da base documental, ele resgatou personagens que, para quem não os conhece, só poderiam ser fictícios. Como Bárbara dos Prazeres, que chegou ao Rio em 1790, casada, mas matou o marido para viver com um nativo, também morto por ela. Tornou-se prostituta no Beco do Telles e, reza a lenda, sacrificava crianças para alcançar a juventude eterna. A ficção tornou Bárbara uma antiga amante de D. João VI. E deu muito humor a todos os conflitos do livro.

- Dom João não foi o palerma que se acha que ele foi, muito menos a figura repelente do filme da Carla Camurati ("Carlota Joaquina, princesa do Brazil"). Os historiadores brasileiros seguiram por muito tempo os historiadores portugueses, que não gostavam de Dom João VI, deixando de ver os benefícios que ele deu para o país.

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