
Para quem sonha estrelar uma peça de um grupo consagrado de Curitiba, este é o momento. A companhia Delírio abriu inscrições para uma oficina de treinamento corporal e experimentação que, no fundo, é um grande teste de elenco (leia mais ao lado). Dali sairão atores e atrizes para Satyricon Leminski, espetáculo que estreia no próximo Festival de Curitiba (de 27 de março a 8 de abril de 2012).
O título se justifica: Satyricon, texto atribuído ao romano Petrônio e escrito por volta do anos 60 d.C., ganhou uma tradução direta do latim pelas mãos do maior poeta curitibano, Paulo Leminski, que publicou o texto em 1985 pela editora Brasiliense.
"Quando tive contato com o livro, fiquei louco de vontade de montar. Mas tinha que ser com essa tradução do Leminski", contou o diretor Edson Bueno à Gazeta do Povo.
A obra trata dos ciúmes e desventuras de um triângulo amoroso homossexual, formado por Encólpio, seu amante Ascilto e o servo Gitão. O romance é considerado uma fonte de informação sobre o cotidiano romano, num relato de fácil identificação o poeta surrealista francês Raymond Queneau disse certa vez que Petrônio foi o "mais moderno dos escritores da Antiguidade".
"É genial, do ponto de vista do humor. Faz uma leitura tão ácida que funciona para nossos tempos quase como uma crítica política, de valores morais e costumes sociais", elogia Bueno.
Para ele, a tradução usada em sua montagem "tinha que ser a de Leminski" para que a peça não virasse uma tentativa de criar no palco o que Fellini fez magistralmente no cinema. O filme italiano, que leva o mesmo nome do romance, foi lançado em 1969 e se passa no Império Romano.
Já a tradução do poeta paranaense "tirou o verniz clássico do romance e o deixou muito popular", nas palavras de Bueno. "É muito mais maroto, mole e maldito, e com isso mexe com nossos lados mais escondidos."
Apesar de sonhar com essa montagem há mais de 20 anos, o diretor esperou um momento em que pudesse dedicar um grande esforço ao projeto. "Não é uma coisa que se possa chegar e fazer sem que tenha um impacto especial."
"Sessão maldita"
A relevância da obra se confirma pelo fato de, além do Delírio, dois outros grupos pretenderem trazer adaptações do Satyricon ao próximo Festival: os grupos Os Satyros (nascido no Paraná e radicado em São Paulo) e Pia Fraus pretendem trazer uma versão cada um. A coincidência fez surgir a ideia de se colocar as três montagens em cartaz num prostíbulo da cidade, numa espécie de "sessão maldita", conforme Bueno, que, quando soube, conta ter pensado que os grupos "têm mania de pensar nas mesmas coisas". "Assistir a versões de três diretores diferentes será uma experiência divertida."





