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Sedução vampiresca

A literatura de entretenimento não tem grandes pretensões intelectuais. Ela existe, basicamente, para passar o tempo. O que explica o outro nome pelo qual é conhecida: literatura de aeroporto – um dos lugares do mundo onde a passagem do tempo pode ser uma angústia terrível o suficiente para levar alguém que nunca leu um livro na vida a considerar essa possibilidade.

Pessoas assim fizeram de Dan Brown o maior fenômeno literário da década e seu nome se tornou sinônimo de livros com tramas envolventes capazes de deixar, no leitor, a sensação de que as horas de leitura, além de divertidas, foram informativas – e bem empregadas. Exatamente como faz O Código da Vinci.

O gênero existia muito antes de Brown, que deve respeito a Agatha Christie, Stephen King, Sidney Sheldon, Danielle Steel, John Grisham e a lista não é pequena. No Brasil, lançamentos dessa linha sempre existiram de uma forma marginal – vendendo bem sem depender de resenhas em jornais e revistas. Porém, a revolução Dan Brown deu um fôlego que a literatura de entretenimento experimentou raras vezes no país de Machado de Assis.

Some essa "febre Da Vinci" à entrada de duas gigantes do mercado editorial no mundo: Planeta e Santillana – hoje com participação majoritária na Objetiva. Ambas entraram no Brasil dispostas a investir no que os americanos chamam de mass media books (livros de mídia de massa) ou livros de fast pace (ritmo veloz), outras duas alcunhas para falar da literatura de entretenimento.

A mais nova investida no gênero vem da Objetiva/Santillana, com a criação do selo Suma de Letras. O Brasil é o primeiro país a receber a marca depois da Espanha, onde foi lançada em abril passado. "O Suma nasceu com força e o objetivo claro de atingir um grupo de leitores extremamente amplo", afirma a editora, por meio de sua assessoria de imprensa.

A empresa quer para si o público que procura em um livro as mesmas qualidades de uma superprodução cinematográfica – história bem contada, capacidade de divertir e, "sempre que possível, que também lhes ensine alguma coisa". O primeiro título lançado pelo selo é O Historiador, de Elizabeth Kostova (Tradução de Maria Luiza Newlands. Suma de Letras, 544 págs, 44,90), best seller que vendeu 800 mil exemplares em língua inglesa.

Sua tiragem inicial no Brasil é de 15 mil unidades – cinco vezes a quantidade impressa em primeira edição de um livro "normal", sem apelo popular. O enredo retoma os romances de vampiros – fala, especificamente, do famoso Drácula, criado por Bram Stoker (1847 – 1912) – , filão explorado por Anne Rice (Entrevista com o Vampiro), aliás, outra autora das massas.

Depois do sucesso em inglês, O Historiador deve ser publicado em 26 países. Kostova precisou de dez anos de pesquisas para contar a história da jovem que encontra, na biblioteca do pai, um livro antigo e cartas amareladas que a conduzem em uma busca pela verdade sobre Vlad, o Empalador – tirano no qual Stoker teria se inspirado quando criou seu vampiro-mor. Outros cinco títulos devem ser lançados até o final do ano pelo Suma de Letras, mas os nomes ainda não podem ser divulgados por questões contratuais.

A comparação entre livros e superproduções de cinema deixa claro a intenção de entreter e de manter uma relação próxima com a única mídia no mundo capaz de atingir públicos imensos rapidamente. Esse namoro aparece em outro lançamento: O Mergulho, de Pipín Ferreras (Tradução de Márcia Frazão. Planeta, 312 págs., R$ 39,90), onde se lê, na capa, "Filme em produção dirigido por James Cameron".

Usar referências de filmes não é novo – inédito é fazer isso quando a produção ainda não existe. De acordo com o site Internet Movie Database (www.imdb.com), referência na rede, a possibilidade de adaptar o filme foi só anunciada e Cameron aparece apenas como produtor – não há um diretor definido. "A gente achou válida a informação. Leva as pessoas amantes do cinema a ler a contracapa e a orelha do livro, o que é importante na hora da compra", explica o editor Pascoal Soto, da Planeta.

Para alguns – como o editor Ivan Pinheiro Machado, da gaúcha L&PM –, os grandes grupos editoriais entraram no Brasil como predadores em busca de sangue (das editoras pequenas). Para Soto, isso "é uma grande bobagem". Sem meias palavras, ele diz que a Planeta quer mesmo popularizar o livro, seguindo as regras do mercado. E elas mandam seduzir o leitor que não é consumidor assíduo de literatura.

O Historiador

* O livro de Elizabeth Kostova, O Historiador, retoma a lenda do conde Drácula, personagem criado por Bram Stoker em 1897.

* Sete séries de televisão com o tema vampiro já foram produzidas.

* Desde o lançamento, em 1897, até hoje, o clássico Drácula, de Bram Stoker, nunca deixou de ser publicado e/ou reeditado.

* Empalamento era o método de tortura preferido do conde romeno Vlad Tepes (1428 – 1476) , tirano sanguinário que inspirou Stoker a criar seu personagem.

* Em romeno a palavra "drac" significa "dragão", "ulea" significa "filho de". Assim, Vlad 2.º foi chamado de Vlad Dracula, ou seja "o filho do Dragão". Em romeno a palavra "drac" também significa "demônio".

* Fonte: Editora Objetiva.

Números

26 paísescompraram os direitos de tradução de O Historiador, recém-lançado no Brasil.

800 mil exemplares foram vendidos somente em língua inglesa do livro de Elizabeth Kostova.

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