
Luis Fernando Verissimo está a dois capítulos do término de seu novo livro, Espiões; Cristóvão Tezza só tem rascunhada uma ideia grandes escritores da literatura brasileira reuniram-se no último fim de semana em São Francisco Xavier, charmoso distrito de São José dos Campos, onde participaram do 2º Festival da Mantiqueira Diálogos com a Literatura, mostra literária promovida pela Secretaria do Estado da Cultura. E boa parte deles ainda busca tempo para dar prosseguimento à sua carreira.
O impasse é curioso: ativos participantes de encontros literários (modalidade que aumenta expressivamente em quantidade pelo país), eles cumprem com o que julgam ser uma saudável obrigação divulgar a literatura mas se ressentem justamente do sossego para continuar a exercer esta mesma literatura. "Escrevo nas horas vagas", conta Verissimo, que confessou ter na música uma paixão levemente superior. "Se pudesse, tocaria mais com minha banda do que escreveria."
Em São Francisco Xavier, ele exerceu as duas funções. No sábado à tarde, Verissimo reuniu-se com Flavio Carneiro e Luiz Alfredo Garcia-Roza, sob a mediação de Luís Augusto Fischer, para discutir a literatura policial a partir da comemoração dos 200 anos de nascimento daquele que é considerado o pai da moderna trama policial, Edgar Allan Poe. E, à noite, Verissimo empunhou seu saxofone alto para comandar a apresentação do Jazz 6, grupo que já fora um sexteto ("Um saiu, mas mantivemos o número no nome para podermos nos apresentar em circo como o menor sexteto do mundo", brincou).
O assédio de público foi tão grande que o grupo fez uma apresentação extra, para não desapontar os fãs. Os mesmos que lotaram a tenda principal à tarde, quando ouviram sua comparação entre Poe e Jorge Luis Borges. "Poe propôs jogos ao leitor, daí o fascínio de Borges por sua obra: afinal, o argentino sempre gostou de desafios." Espiões também será um policial, primeiro livro que Verissimo escreve por conta própria, sem ser de encomenda. "Talvez aí seja meu principal problema", brinca ele, que pretende terminá-lo ainda neste ano.
Tezza
A mesma promessa não pode fazer Cristóvão Tezza que, com O Filho Eterno (Record), ganhou todos os principais prêmios literários do ano passado, o que transformou sua agenda em um suceder de encontros literários. "No momento, não consigo tempo para retomar a literatura", conta ele, que concilia a carreira com a de professor universitário em Curitiba.
Catarinense de nascimento, Tezza, que é colunista da Gazeta do Povo, sofreu, aliás, um dissabor em sua terra natal. É que seu livro Aventuras Provisórias teve a leitura censurada por escolas de Santa Catarina.
O governo estadual fez uma compra de 130 mil exemplares da obra, selecionada para adoção no ensino médio (15 a 18 anos). Mas, por ter um conteúdo considerado inadequado (como cenas de sexo e uso de palavrões), o livro foi rejeitado pelos professores. "Eu soube da interdição e fiquei horrorizado", disse. "Não vejo nenhum inconveniente nas cenas reclamadas, pois não apresentam nada que o adolescente não descubra em outras mídias."




