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Entrevista

Sempre bela e inteligente

Catherine Deneuve, atriz

Catherine Deneuve estrela o filme Potiche, de François Ozon | Divulgação
Catherine Deneuve estrela o filme Potiche, de François Ozon (Foto: Divulgação)

Se você tiver a oportunidade de um contato mais próximo com Catherine Deneuve, vai compreender que, nesta receita de eterno fascínio, o ingrediente principal é a inteligência. Qualquer outra atriz, à exceção dela, teria ficado prisioneira na gaiola dourada de ex Belle de Jour (A Bela da Tarde, clássico de Luis Buñuel), indiferente ao tempo que passa, imersa na sombra dos novos rostos estelares. Ela sabe o que o imo­­bilismo contemplativo po­­deria ter causado à sua carreira e à sua vida.

Por isso mesmo, a Catherine Deneuve que passou por Veneza para promover Potiche, um dos candidatos franceses na mostra de cinema, se apresentou naturalmente como uma mulher jovial e divertida, curiosa acerca de tudo, antenadíssima, saudavelmente pragmática como somente certas mulheres sabem ser.

Veneza parece sempre oferecer carinho e cumplicidade para ela. Há quase dez anos, a interpretação no drama Place Vendôme valeu à Catherine a Coppa Volpi de melhor atriz. Premio que pode agora se repetir pelo papel de Suzanne na ótima comédia de François Ozon. Uma Suzanne a princípio objeto decorativo (o "potiche" do título original), depois capitã da indústria do marido. Uma Catherine sempre diva, mas sem o divismo, aplaudida em cena aberta na sala de projeção, depois na coletiva.

Mesma com a agenda limitada a poucos jornalistas, a atriz conversou com a Gazeta do Povo numa suíte do Hotel Bauer-Grünwald, longe da agitação do Lido, o efervescente quartel-general do Fes­­tival de Veneza.

A impressão é que a Suzanne de Potiche foi um trabalho muito divertido, e sua adesão à personagem parece incondicional. Foi isto mesmo?

O que me atraiu foi a idéia de uma mulher tímida que, pouco a pouco, conquista o poder e o mantém, desejando o bem comum. E também fiquei muito feliz por trabalhar numa comédia, gênero que amo e que nos últimos tempos pratico muito pouco, e que quase nunca é in­­cluído na seleção dos festivais.

Em certo momento do filme Suzanne se lança na política. Qual é sua posição a respeito da participação de mulheres na disputa de cargos eletivos ? De alguma forma a campanha de sua personagem foi inspirada pela candidata à presidência da França, Ségolèle Royal ?

Estou segura que também na política Suzanne fará muitas coisas boas, já que está confiante em si mesma, sabe fazer frente à situações difíceis, reage com coragem e determinação. Quanto à Ségolène, bem, não creio que tudo terminou ali. Veremos. As mulheres conquistaram um papel importante na cena política, mas não sem grandes dificuldades.

Gostaria de se candidatar um dia?

Fazer política partidária e concorrer a cargos públicos significa não ter mais vida privada. Somente deve se dedicar quem tiver mesmo uma verdadeira vocação.

Mas tomar partido em causas políticas é preocupação sua, como agora mesmo com o caso da iraniana Sakinéh.

Sim, assinei há poucos dias uma petição contra sua sentença de morte por apedrejamento. É importante que exista uma mobilização internacional, sempre terá utilidade, e talvez a sentença seja até mesmo suspensa. Mas é difícil que decidam libertá-la somente graças a uma lista de assinaturas.

De volta ao cinema. Potiche também marca o reencontro com seu amigo Gerard Depardieu. Certa vez ele disse a seu respeito: "Deneuve? É o homem que gostaria de ter sido". O que acha ?

É nosso sétimo filme juntos. Gerard adora as mulheres, especialmente as atrizes. É um partner estupendo, muito presente. Eu o vejo pouco, mas, quando nos encontramos, é como se tivéssemos nos visto na véspera. Gerard é um ator com forte componente feminino, habituado a freqüentar e conviver com mais mulheres que homens. A nossa relação foi sempre uma espécie de amizade viril, e é verdade que de mim ele privilegia mais o lado, digamos, viril.

O próximo filme, já está decidido?

Um roteiro escrito e dirigido por Christophe Honorè. Meu marido será Milos Forman, e minha filha Chiara (Mastroianni, da sua união com Marcello Mastroianni) também está no elenco, mas não como minha filha... Até agora atuei pouco ao lado dela, somente breves momentos, pequenas coisas, mas sempre fiquei muito feliz. Temos uma relação intensa, só que para ela serei sempre mais mãe do que atriz.

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