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Foi uma parceria com Ivan Lins que deu a partida para a volta de Chico Buarque à música com o disco Carioca, lançado em 2006, oito anos depois de As Cidades. Entre um trabalho e outro, Chico se dedicou integralmente ao mundo literário com o romance Budapeste imersão que faz às custas de seu desligamento da música. Ivan marcou novamente a virada do ciclo que se repete há cerca de 20 anos, agora trazendo o autor de Leite Derramado (2009) para seu retorno à música no disco Chico, que estará nas lojas a partir de sexta-feira.
A música "Sou Eu", parceria entre os dois, foi a primeira entre as dez do novo trabalho de Chico, que inclui também composições com João Bosco e o contrabaixista Jorge Helder. "Levei um tempo para que a música me aceitasse de volta", diz Chico, em entrevista divulgada para a imprensa na semana passada, em que fala sobre todo o processo de criação do novo disco. Assunto que, aliás, já não é totalmente novidade para parte do público: desde o dia 20 de junho, vídeos dos bastidores da produção de Chico vêm sendo divulgados diariamente no site Chico: Bastidores (chicobastidores.com.br) como estratégia de divulgação.
Parte do conteúdo era exclusiva para usuários que fizeram a pré-compra do disco pela internet um modelo inédito na carreira de Chico, com resultados comemorados pela gravadora Biscoito Fino, apesar dos imprevistos. A primeira faixa de Chico, "Querido Diário", vazou na internet logo após ser disponibilizada no site oficial que, no mesmo dia, teve problemas de "congestionamento" de fãs. Os usuários tiveram de esperar por horas para se cadastrar. A recepção da primeira música a ser divulgada também não foi das melhores: o verso "Amar uma mulher sem orifício" recebeu duras críticas na rede. Curiosamente, em um dos vídeos divulgados no site, o compositor fala, aos risos, das surpresas que teve ao descobrir comentários negativos sobre ele na web.
O disco
Chico diz que o novo trabalho está mais maduro musicalmente. Uma a uma, cada composição foi enviada para o produtor Luiz Claudio Ramos que trabalha com o compositor desde 1989 ao longo de um ano e meio, com intervalos de três a quatro meses. De acordo com Chico, cada música passou por várias fases até que ele se sentisse seguro de que estava pronta ele diz ter dificuldades para mostrar "rascunhos". Quando chegaram à fase dos arranjos, estavam bem sedimentadas.
Quanto aos trabalhos com a banda, formada essencialmente por Ramos no violão, João Rebouças no piano e Helder no contrabaixo, a tranquilidade dos ensaios no estúdio particular do produtor foram importantes para a consistência dos arranjos, que passam por levadas como moda de viola ("Querido Diário"), blues ("Essa Pequena"), baião ("Tipo Baião"), choro-canção ("Se Eu Soubesse"), valsa ("Nina") e samba ("Barafunda").
Sem o "taxímetro" dos estúdios contratados, que têm custo por tempo de uso, a banda pôde repetir e alterar cada música quantas vezes julgou necessário. Assim, os músicos entraram no estúdio mais conscientes do que era o disco, que, de acordo com Chico, foi pensado com orquestrações mais "econômicas". "Quando vi as primeiras gravações, via que já estava quase tudo ali", diz.
O produto final de acordo com Chico, o resultado de todo o seu trabalho musical pós-Leite Derramado parece ao compositor o seu melhor disco, embora ele não o compare a trabalhos anteriores. "Sempre é o melhor", diz o compositor, explicando que a impressão é a mesma a cada término de trabalho, já que se trata do melhor que pôde fazer. "Mas não tenho a menor ideia do que as pessoas vão pensar".
