A tradução em russo do último livro da saga de Harry Potter chegou neste sábado às livrarias da Rússia, com tiragem de 1,8 milhão de exemplares e já sem a sombra da acusação de satanismo feita há cinco anos. Adolescentes vestidos de bruxos, fadas, fantasmas e monstros fizeram filas para comprar "Harry Potter e as relíquias da morte", que começou a ser vendido à meia-noite.
A difusão dos livros de J.K. Rowling foram alvo de um escândalo em 2002, quando a Fiscalização de Moscou - a pedido de Tatiana Uspénskaya, uma cliente indignada - abriu uma investigação para saber se havia propaganda de "satanismo, bruxaria e ocultismo" nos livros. A mulher acusava o segundo livro da série, "Harry Potter e a câmara secreta" de "ferir seus sentimentos religiosos", "pregar a bruxaria" e "atacar a moral ortodoxa". Incapazes de culpar a autora britânica, os fiscais foram em cima da editora, mas não deu em nada, o que levou Tatiana Uspénskaya a alegar que era um "precedente perigoso para a censura" e sugerir "um novo processo de limpeza literária".
Formadores de opinião viram o escândalo de todas as maneiras. Alguns ironizaram e outros acataram com seriedade, reforçando a idéia da política de linha dura com a imprensa livre imposta pela adminitração do presidente russo Vladimir Putin. "Harry Potter é mais perigoso que Bin Laden", publicou o site "Ultro.ru", na época. "Harry Putin e a vara mágica da KGB", ironizou o "Grani.ru".
Em dezembro daquele ano, a fiscalização colocou fim ao caso, alegando que "não havia base para se abrir um processo, segundo o artigo 282 do Código Penal", que dá pena de até cinco anos de cadeia a quem divulga o ódio a qualquer tipo de religião, etnia ou raça.
Na Rússia, foram vendidas nove milhões de cópias do outros seis livros anteriores de Harry Potter.



