
Do final dos anos 1960 até a metade da década de 1970, tomou forma no Brasil um novo movimento cinematográfico, intitulado Cinema Marginal, período em que os cineastas tinham como protagonistas, das suas produções com parcos recursos, personagens que estavam sempre à margem da sociedade, sem emprego ou expectativas. Ozualdo Candeias, Júlio Bressane e José Mojica Marins foram alguns dos diretores que se destacaram naquele momento. Mas foi o filme O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla, o marco do movimento. Amanhã, o Sesc Paço da Liberdade inicia uma mostra em homenagem ao cineasta, com a exibição do longa-metragem Luz nas Trevas.
O filme, até então inédito em Curitiba (estreou em algumas capitais em maio), é uma continuação do longa O Bandido da Luz Vermelha, e é codirigido (junto com Ícaro Martins) pela viúva do cineasta, Helena Ignez, que estará presente no dia da estreia para um debate com o público. O roteiro original deixado por Sganzerla (morto em 2004) retrata a história de Jorge Bronze, filho do famoso Bandido da Luz Vermelha, que é vivido pelo cantor Ney Matogrosso. "Eu precisava do Luz como um personagem forte, e ninguém melhor que o Ney para viver isso, que, além de cantor, criou uma persona em torno dele. Ele conseguiu segurar a transformação pela qual o personagem passou. Conseguimos manter a lógica, sendo fiel ao anarquismo característico do Luz", disse a diretora, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo de sua empresa em São Paulo, a Mercúrio Produções.
Ao mesmo tempo em que o longa-metragem relata a trajetória do filho, também traz o Bandido da Luz Vermelha encarcerado em um presídio de segurança máxima, mostrando como ele lida com o fato de ser um dos criminosos mais famosos do Brasil. Para Helena, o projeto tem um caráter pessoal: ela viveu Janete Jane no filme de 1968, personagem por quem Luz Vermelha se apaixona na época, ela era considerada a "musa do cinema novo" (atuou em filmes como O Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias, e O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade). Em Luz nas Trevas, é a filha de Helena e Sganzerla, Djin Sganzerla, que vive a paixão de Jorge Bronze. "Não modifiquei o roteiro, mas fiz um filme feminino, e não de Rogério", ressaltou.
Roteiro
Para adaptar e transformar as mais de 500 páginas deixadas por Sganzerla, Helena trabalhou por mais de um ano. "Tinha uma quantidade enorme de material que precisava ser selecionado. Foi uma experiência prazerosa, mas trabalhosa." Com orçamento de R$ 2,6 milhões, o filme foi todo rodado em São Paulo, em mais de 50 locações, durante seis semanas. "Foi uma produção pequena, mas de luxo. O Ney se surpreendeu quando entrou na locação da prisão", contou Helena. Até agora, o longa é considerado, segundo a diretora, um "blockbuster dos filmes experimentais" fez cerca de 10 mil espectadores.



