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Tecidos e cadeiras compõem os figurinos e o cenário. E só. O resto é pura interpretação. A simplicidade do espetáculo Os Dois Cavalheiros de Verona, primeira comédia romântica de Shakespeare, adaptada pelo grupo carioca Nós do Morro, permite entrever aquilo que realmente interessa não apenas no teatro, mas na arte: a fruição do texto pela expressão do ator. Soma-se a isso o frescor juvenil almejado pelo bardo inglês quando decidiu criar os jovens protagonistas de sua história – os amigos Proteu e Valentino e suas amadas Júlia e Sílvia.

A montagem foi apresentada nos dias 22 e 23, no Guairão, como parte da programação da Mostra Oficial do FTC 2006. A amplidão do maior teatro da América Latina atrapalhou um pouco a comunicação dos atores com o público – que, apesar de numeroso, não conseguiu preencher nem mesmo os bancos da platéia, que dirá os mais de dois mil lugares do espaço. A distância atrapalhou até mesmo a audição.

A má escolha do local não impediu o público de se emocionar com a extrema naturalidade com que o elenco se apossou da obra de Shakespeare para devolvê-la aos palcos à sua própria maneira, sem que isso signifique subvertê-la. É como se os dois cavalheiros de Verona estivessem às voltas com seus problemas amorosos aqui e agora, ou lá no morro do Vidigal, bairro pobre do Rio de Janeiro onde vive o elenco e onde está a sede do grupo Nós do Morro.

Não que a história tenha sido transferida para os tempos atuais – o respeito ao texto é muito claro. Mas, as palavras do dramaturgo inglês soam contemporâneas e, o que é melhor, brasileiras, ao serem pronunciadas com a malemolência e a espontaneidade natas dos jovens atores.

Destacam-se as atuações dos protagonistas Thiago Martins (Valentino), Renan Monteiro (Proteu), Mary Sheyla de Paula (Julia) e Roberta Rodrigues (Sílvia) – esta última, aliás, prende o olhar do espectador do início ao fim do espetáculo, pelo seu talento e carisma.

Mas, o trabalho conjunto de todo o elenco emociona. Para defini-lo, as melhores palavras são as de Guti Fraga, que assina a direção com Fátima Domingues e Miwá Yanagizawa: "A montagem é simples, visceral e alegre, assim como o amor dos jovens, tema da peça. A concepção é baseada nisso, na energia jovem".

Há apenas uma transgressão na peça. O dramaturgo Luiz Paulo Corrêa e Castro acrescentou prólogos, que foram musicados e dançados pelo elenco com um jeitinho todo brasileiro. Nem Shakespeare resistiria a tanto charme. GGGG

Confira um outro ponto de vista sobre o espetáculo "Os Dois Cavalheiros de Verona" na Gazeta do Povo Online

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