
Globo Filmes, O2 Filmes e Fox Filmes. Ter essas três marcas no cartaz é sinal de prestígio para uma produção nacional atualmente. E também significa uma grande aposta se a produção em questão marca a estréia de um diretor em longas-metragens, pois não é muito comum no Brasil um novato ter tanto apoio para lançar um trabalho.
Cercado de muitas expectativas, será lançado nacionalmente na próxima quinta-feira Não por Acaso, primeiro longa do cineasta carioca (mas radicado em São Paulo) Philippe Barcinski, um dos principais curta-metragistas do cinema brasileiro recente. Além das credenciais das três empresas, a fita chama a atenção por ser estrelada por Rodrigo Santoro, que passou recentemente ao patamar de astro internacional com a participação no blockbuster 300 e na série televisiva americana Lost. Ainda compõem o elenco principal Leonardo Medeiros (Cabra-Cega) e Letícia Sabatella.
Não por Acaso conta duas histórias. Na primeira, Santoro vive Pedro, construtor de mesas de sinuca e dono de um salão de sinuca, negócios herdados do pai. Na outra, Medeiros é Ênio, um dos principais controladores de tráfego urbano da cidade de São Paulo. Ambos são pessoas metódicas e racionais e têm suas vidas mudadas a partir de acidentes de trânsito, tendo que aprender a lidar com perdas pessoais e com suas próprias emoções.
Segundo Barcinski, as duas partes do filme têm estrutura dramática muito semelhante, mas que diferem na parte humana e estética. "Elas não ficam repetitivas, complementam-se. Vejo o filme como histórias que correm em paralelo", explicou o diretor durante o festival Cine PE 2007, no qual Não por Acaso levou os prêmios de melhores ator (Medeiros), atriz coadjuvante (Branca Messina), montagem e fotografia. "Essas tramas apenas se tangenciam, realmente não se integram. Isso se torna enigmático para o espectador e ressalta os temas principais do filme: a compulsão humana e a vida como uma experiência que não é possível de se controlar", continua.
O cineasta lembra que passou cinco anos trabalhando no roteiro do filme. No início, eram cinco histórias que se cruzavam. "Ao fazer o roteiro, estava tentando resolver a questão da migração do curta-metragem para o longa-metragem. Fiz cinco curtas que funcionaram muito bem, mas com idéias muito nucleares, muito jogo de linguagem e elaboração visual. Percebi que, diferente do curta, a porta de entrada do longa é a identificação com os personagens, é por onde o público viaja no filme. Quando me voltei para isso, o filme começou a ganhar uma grande dimensão emocional", diz.
Barcinski conta que por sua trajetória vitoriosa no curta-metragismo com cinco trabalhos muito premiados, como Palíndromo, que pode ser assistido no site Porta Curtas (www.portacurtas.com.br ) os produtores que se associaram a Não por Acaso esperavam que o filme tivesse um diferencial de arrojo, de jogo de linguagem, de camadas de significados. "Ao mesmo tempo, ninguém queria gastar tanto esforço, energia e dinheiro (a produção tem orçamento de R$ 5,9 milhões) para atingir poucas pessoas", revela. Para o cinesta, seu grande desafio foi apresentar um filme sofisticado, com vários significados, mas que não parecesse hermético. "O meu sonho é que essa aposta de fazer um cinema reflexivo e sutil seja possível de ser integrada com uma proposta de um cinema relativamente popular", continua.
Esse cinema proposto por Barcinski sofisticado e popular tem sua prova de fogo a partir de quinta. Não por Acaso terá lançamento de médio porte (de 35 a 50 salas) e encara um difícil período em que o mercado está dominado por blockbusters: Homem-Aranha 3, Piratas do Caribe 3 e Shrek 3 (este último também estreando no próximo fim de semana). Nesse cenário, Rodrigo Santoro pode ser o grande trunfo do filme nacional.



