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Dança

Solta ao som da música do acaso

Depois de duas décadas de atividade profissional em Curitiba, a coreógrafa paulista Carmen Jorge se prepara para passar uma temporada em Nova York com uma bolsa da Funarte

Depois de duas décadas de atividade profissional, fez de tudo, praticamente tornou-se empresária. “Quero a leveza de uma vida sem tantos compromissos”, diz Carmen Jorge | Fotos: Elenize Dezgeniski/Divulgação
Depois de duas décadas de atividade profissional, fez de tudo, praticamente tornou-se empresária. “Quero a leveza de uma vida sem tantos compromissos”, diz Carmen Jorge (Foto: Fotos: Elenize Dezgeniski/Divulgação)
We Cage: proposta na qual intérpretes interagem com softwares, fruto da pesquisa de Carmen Jorge |

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We Cage: proposta na qual intérpretes interagem com softwares, fruto da pesquisa de Carmen Jorge

Carmen Jorge experimenta no momento atual um frescor, palavra que ela mesma usa, similar ao que sentiu apenas no início de sua trajetória artística, há quase duas décadas. Essa leveza tem explicação. Aos 43 anos, desistiu de tentar ter o controle do próprio destino. A coreógrafa profissional tem alguns compromissos até o fim do ano, quando deve acontecer uma ruptura em sua carreira.

Há pouco mais de um mês, ela recebeu a notícia de que foi contemplada com uma bolsa da Funarte, equivalente a R$ 43 mil, para fazer residência em qualquer ponto do planeta. O brinde foi com vinho tinto seco Malbec, pois o fomento vai viabilizar um sonho antigo. Entre janeiro e junho de 2011, Carmen vai estudar técnica corporal com a renomada pesquisadora Susan Klein, o que deve abrir horizontes para a artista, que encontra no corpo, mais do que um instrumento, um modo de atuação.

A paulista de Marília que, em 1988, veio a Curitiba com o objetivo de se tornar bailarina, não sabe o que vai acontecer quando julho do ano que vem chegar. Depois da experiência nos Estados Unidos, talvez retorne à capital do Paraná. Tem um apartamento aqui. Mantém um estúdio, sede de sua companhia de dança, a Pip, que soma nove anos de existência. Mas, dependendo de para onde soprarem os ventos, ela pode até voltar para São Paulo. "De toda forma, Curitiba sempre estará comigo, independentemente de para onde eu for", diz.

Pular o mundo

Ainda em São Paulo, antes de fixar raízes em Curitiba, a artista fez uma escolha que ditaria os seus passos futuros. Optou pela pesquisa e, a partir disso, teve a oportunidade de estudar com profissionais que fariam toda a diferença em sua visão de mundo. "Cheguei a ter aulas de anatomia para entender como, por exemplo, no balé, determinado movimento exige uma resposta específica do corpo", conta.

Os primeiros tempos em Curi­­ti­­ba não foram nada fáceis. A começar pela questão climática: Carmen nasceu e cresceu em uma cidade menos fria. Mas, tendo cobertor, cachecol e jaquetas co­­mo aliados, aos poucos foi aprendendo a conviver com as frentes frias. Estudou dança clássica e moderna. Atuou por oito anos no (extinto) Coral Sinfônico do Teatro Guaíra. Licenciou-se em Dança pela Pontifícia Univer­­si­­dade Católica do Paraná (PUCPR). Mas o que funcionou como um trampolim para ela foi um coletivo de apenas quatro letras, e muita energia: UAIC.

Variações da dança

A União de Artistas Indepen­den­tes Contemporâneos (UAIC) reuniu nomes que hoje são referências no universo artístico local, entre os quais Maurício Vogue, Rafael Camargo e Raul Cruz (falecido). Carmen recorda que naqueles tempos, no início da década de 1990, o grupo fazia, e acontecia, sem os recursos de leis de incentivo. "Ninguém ganhava dinheiro, mas parecia que fazíamos muito mais do que se faz atualmente. Havia experimentalismo. Aprendi muito na UAIC", conta.

Ela sobreviveu vendendo bombons durante quatro anos, quando perdeu a bolsa que recebia de um curso de dança. Mas, em 1994, depois de algum aprendizado, incluindo intuição e aquilo que chamam de "jeito para a coisa", Carmen começou a ser chamada para coreografar. Desde então, já assinou coreografias para mais de 50 espetáculos. De Edson Bueno a Fátima Ortiz, trabalhou com praticamente todos os diretores em atividade no Paraná.

De musicais até propostas mais arrojadas, nas quais os movimentos, embora fora do contexto da dança, são coreografados, Carmen se mostrou versátil. Atualmente, é contratada até para afinar a expressão corporal em comerciais publicitários.

Nos próximos dias, disponibilizará para instituições de ensino e pesquisa o DVD com a trajetória de sua companhia. We Cage, o mais recente espetáculo da Pip, pode vir a participar de uma importante mostra nacional. Mas, por hora, ela quer dançar a música do acaso.

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