
Quem vai às apresentações do Cirque du Soleil, que está com o espetáculo Varekai em cartaz até o dia 15 de julho no Exportrade, em Pinhais, logo descobre que não identifica o idioma falado e cantado por ali. E nem deve: a companhia canadense usa uma língua inventada, justamente para que o idioma não seja uma barreira entre o público e o show.
Um dos papéis mais representativos desta total liberdade para se comunicar por meio da emoção é interpretado pela cantora Isabelle Corradi, a principal vocalista da trilha sonora de Varekai.
Em meio às referências multiétnicas das composições feitas para o espetáculo que, inspirado pela cultura dos povos nômades, absorve desde a música oriental até o pop, passando pela África , Isabelle e o parceiro Craig Jennings cantam letras cujos sentidos estão na intenção. "Como é uma língua universal, o que você sente é emoção. Você pode ser de qualquer nacionalidade. Vai estar na plateia e não vai perguntar o que ela disse?", diz Isabelle. "Tudo se resume à emoção."
Música e movimento
A cantora, que se apresenta com o Cirque de Soleil desde 1994, explica que a trilha sonora tem um papel fundamental nos shows da companhia, já que sustenta o espetáculo dos movimentos. "Trabalhamos com os melhores talentos do mundo, a maioria medalhistas de ouro. E a música engrandece o movimento", diz Isabelle, que também é atriz e dançarina, e já foi treinadora dos acrobatas.
O diálogo entre a performance musical e o palco não se resume aos elementos previstos nos números base sobre a qual trabalhou a compositora da trilha sonora, a compositora Violaine Corradi, que é irmã de Isabelle.
"Eu respondo aos números e tenho a honra de compartilhar as emoções dos artistas antes de entrarem no palco", conta a cantora. "Eles me dizem: hoje estou triste, ou hoje preciso de força. Ou ainda hoje tenho toneladas de energia!. Sabendo disso, posso colocar essa intenção em minha voz."
Tribo
A conexão em facetas tão sutis é reforçada pelos laços comunitários que se criam no Cirque du Soleil, conforme explica Isabelle. "Somos como uma tribo, uma pequena aldeia viajando para todo lugar. E somos uma família, porque estamos mais com as pessoas com quem trabalhamos do que com nossos familiares de sangue", conta. "Somos uma família que viaja o mundo distribuindo amor."
O modo de vida alternativo é justamente o que atrai a maioria dos artistas ao circo incluindo Isabelle, que, com Violaine, é a terceira geração de músicos da família.
"Muitas vezes, escuto histórias como essas dos músicos e cantores. Eles queriam uma vida nova. E essa é uma vida nova, me permita dizer. É diferente de tudo o que eu já fiz em minha vida", conta.
A experiência, de acordo com Isabelle, se torna uma grande transformação pessoal ao aglutinar as 25 nacionalidades de onde vêm os membros do Cirque du Soleil. E a abertura a essa diversidade transforma cada um como artista. "Você pode ser um bom cantor, ou instrumentista, mas tudo o que você vive aqui dentro se transpõe para a sua arte. Abrindo o seu coração para tudo isso, você canta melhor e toca melhor."




