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história

Teatro curitibano: origens

Primeiras montagens no Paraná remetem ao início do século 19. Hoje, o problema maior é a “desmemória”

Teatro Guaíra, em foto atual: espaço cultural consolidou o crescimento econômico do Paraná nos anos 1950 | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Teatro Guaíra, em foto atual: espaço cultural consolidou o crescimento econômico do Paraná nos anos 1950 (Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)
Primeira planta da reforma do Guaíra, dos anos 1950, assinada pelos engenheiros Rubens Mesteir e Paulo Fragoso |

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Primeira planta da reforma do Guaíra, dos anos 1950, assinada pelos engenheiros Rubens Mesteir e Paulo Fragoso

Quando Michel de Mon­taigne (1533-1592) não estava escrevendo sobre o que lhe dava na telha – de problemas estomacais à existência de Deus –, ele se ocupava, de um jeito peculiar, em formar a crítica pedagógica da memória. Notório desmemoriado, alegava a vantagem de reler grandes livros como se inéditos ou esquecer de ofensas pessoais para melhor viver. Foi acusado, em muitos casos, de deslembrar o que lhe era conveniente. Se ao plano pessoal a ausência de memória pode ter seus benefícios – ao avesso do Funes memorioso de Borges, que não esquecia nada –, ao pé histórico-social a desmemória gera um tipo de residual que repercute no teatro curitibano: público escasso que mal sabe do que está sendo produzido atualmente e ainda mais incapaz de compreender o que há para trás de sua própria linha do tempo. "Pergunte até mesmo às pessoas do meio teatral se elas sabem quem foi Cleon Jacques ou José Maria Santos", desafia o diretor João Luiz Fiani.

Não é algo exclusivo do segmento. Há longas temporadas as forças do presente não encontram ressonância no passado, o que reflete num outro ciclo: menos impulso de se lançar ao futuro. Não há tradição, não há construção. Por aqui, a história teatral do esquecimento começa em Paranaguá – por ser porto, destino e eterno regresso. Logo no início do século 19, a cidade registrou montagens de Molière e do cômico carioca José da Silva – que depois acabou sendo queimado pela Inquisição. Tudo era feito ao ar livre, entre feirantes e viajantes. Na metade do século 19, surgem os primeiros teatros locais, que, aliás, passavam por problemas constantes de manutenção. Havia público, mas também muita madeira podre.

Entretanto, o desmembramento do Paraná de São Paulo e a falta de estrutura dos teatros parnanguaras leva o eixo teatral à Curitiba. Com a inauguração, em 1884, do Theatro São Theodoro, que posteriormente veio a se chamar Guayrá, até sua demolição em 1935, a cidade passou a ser rota cultural.

Cemitério de companhias

No início do século 20, muitas companhias estrangeiras incluíam a capital em seu circuito. "Elas vinham se apresentar em São Paulo e Rio de Janeiro e, antes de descerem para Buenos Aires, passavam por Curitiba", alega Marta Morais da Costa, docente sênior da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutora em Teatro pela Universidade de São Paulo (USP).

É dessa época duas das mais interessantes alcunhas que o teatro curitibano incorporou: a do cemitério de companhias e do público ferino. "Muitas companhias acabaram se desfazendo por aqui porque eram arremedos, mambembes, se juntavam para montagens carentes de profissionalismo. O público local não gostava e o projeto de companhia se desfazia". Mas sobre nossa alma crítica... "Olha, isso não é verdade, não. O público curitibano é até bem generoso. A gente aplaude de pé cada coisa..."

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