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Teatro

“Amorexia” e a vida como um violento absurdo

Espetáculo explora uma visão fantasmagórica do amor, mostrando que o sentimento funciona como um catalisador de atritos, desequilíbrios e perversões

Cena do espetáculo “Amorexia”. | David D’ Visant/Divulgação
Cena do espetáculo “Amorexia”. (Foto: David D’ Visant/Divulgação)

Dois elementos podem definir o epicentro dramático de “Amorexia”, peça dirigida por Thadeu Peronne: o amor enquanto derrota, a vida como um violento absurdo. Por quase uma hora, a montagem trouxe, a partir de textos do dramaturgo Douglas Daronco, uma visão fantasmagórica dos desdobramentos afetivos, onde o amor é um catalisador de atritos, desequilíbrios e perversões.

O mundo encenado é aparentemente contrastante, da iluminação soturna ao cenário de aspectos vaudevillescos. Em um ambiente orgiástico de cabaré, três atores narram histórias em que o macabro surge como protagonista. Em “Da Natureza dos Peixes”, uma filha obesa mata os peixes do aquário por excesso de comida e passa a ser humilhada, de diversas formas, por um pai bêbado e uma mãe ausente. “Às Cegas” trata da vida de duas irmãs com deficiência visual. Elas relatam a chegada de um homem desconhecido, que as estupra regularmente. Já “Ferida” conta as dores de uma filha diante de um padrasto que a abusa sexualmente, com consentimento da mãe.

A estética da dilaceração de Daronco e a ausência de saídas poderia muito bem descambar no absurdo e no distanciamento – vemos e não nos representamos. Entretanto, o que mais confere força ao panorama de ares grotescos é, excetuando os extremos, o seu potencial catártico: não há romantismo, há perda de individualidade. Não há serenidade, apenas destruição emocional.

Se o homem parece sempre acuado e a mulher é eternamente invadida, não deixa de ser coerente uma montagem que explore a androginia, levando-a a consequências ainda mais surpreendentes. É o amor rompendo os gêneros, sufocando a beleza e desembocando num lugar bem escuro, possivelmente uma boa parte de nós mesmos.

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