
Uma das grandes expectativas do público e da classe teatral com a chegada do Festival de Teatro é a oportunidade de ver produções estrangeiras. A primeira vez foi em 1995, quando o evento trouxe a americana “Slapstick”.
Após anos de vacas gordas em que a cidade chegou a receber quatro atrações internacionais na mostra oficial (em 2014, todas excelentes), este ano a grade principal traz apenas “Tebas land”, do Uruguai, única 100% internacional e com legendas.
Por outro lado, vieram ainda em 2016 as coproduções “La bête” (Brasil e França) e “Parallel Songs” (Brasil e Alemanha) e duas produções na mostra paralela Fringe (“Sal”, de Portugal, e “Hermanas son las tetas”, da Argentina).
Édipo atual
Com sessões nesta quarta (30) e quinta-feira no Teatro da Reitoria, “Tebas Land” faz sua primeira apresentação num país de fala não espanhola. O fato de Curitiba não ser o maior polo cultural do Brasil não desanimou o diretor uruguaio Sergio Blanco quando foi convidado pelos curadores Marcio Abreu e Guilherme Weber a trazer o espetáculo.
“Gostamos de viajar e conhecer culturas e públicos diferentes”, diz a produtora Matilde López. “ ‘Tebas land’ gera um interesse universal, e por isso mesmo será interessante ver a reação do público, a resposta gerada em Curitiba.”
Em cena estão apenas os atores Gustavo Saffores e Bruno Pereyra, que interpretam um jovem preso sob a acusação de ter matado o pai e um dramaturgo que deseja contar a história dele. Diversas camadas estão contidas na obra, que evoca clássicos distintos como “Édipo Rei” e “Os irmãos Karamazov”.
Diálogos
O interesse pelo contato artístico com a cidade também move a atriz portuguesa Catarina Lacerda, que apresenta o solo “Sal” nesta quarta (30). A peça parte da poesia do português Mário Sá-Carneiro.
Ela conta ter tido poucas influências brasileiras até hoje – basicamente a bossa nova – mas conta com essa primeira vinda ao Brasil para “conhecer outros coletivos, ver reações diferentes ao seu trabalho e criar condições de desenvolver projetos binacionais futuros.” A intenção da companhia Teatro do Frio é levar grupos brasileiros para se apresentar em Portugal em breve.
Morando há cinco anos em São Paulo, o argentino Juan Manuel Tellategui chega ao Fringe com sua peça “Hermanas son las tetas”, já tendo programadas as participações de três atores locais. Simone Magalhães, Stéfano Belo e Patrícia Cipriano farão “pontas” na peça que retrata duas irmãs atrizes concorrentes. O trabalho é uma coprodução com o Brasil, tendo no elenco fixo as atrizes brasileiras Lauanda Varone e Liza Caetano.
“Para mim é interessante esse espaço para compartilhar com outros artistas”, conta Tellategui, que diz comungar da mesma visão de mundo da curitibana Selvática, coletivo com o qual colaboram os atores que integram a peça. Existe um fator “de risco” nas performances: elas ocorrem sem ensaio prévio com os colaboradores. Tudo pode acontecer.



