
O grupo de humor Antropofocus continua pesquisando as várias formas de fazer humor, agora com um interesse especial pela técnica do improviso, que é a base de “Histórias Extraordinéditas”.
A estreia acontece nesta quinta-feira (25) no Teatro Regina Vogue, mas isso não significa que as outras sete noites serão parecidas.
Pelo contrário: a proposta do espetáculo envolve entrevistas com espectadores, que fornecem histórias engraçadas a serem retrabalhadas no palco.
Serão seis esquetes inéditas por noite. Cada ator conta uma das histórias que ouviu, que serve de mote para que um membro do grupo se prontifique a iniciar uma cena a ser criada no momento.
A plateia conta histórias sensacionais! A gente até não conta o relato inteiro, porque já seria uma ótima comédia por si só.
Os outros entram para contracenar quando querem– com frequência, acabam mudando o rumo idealizado por quem teve a ideia original. E assim vai até que um deles consegue finalizar a cena com uma boa tirada.
Durante a pré-estreia acompanhada pela reportagem, falou mais alto a veia nonsense do grupo.
Surgiu um “deus do transtorno obsessivo-compulsivo” de cachecol torto.
Uma mulher engoliu toda a vizinhança durante a madrugada – a ideia maluca decorreu do relato de uma espectadora sobre o dia em que comeu cinco ovos de Páscoa de uma vez e acordou inchada, mas feliz.
O cenário e o figurino assinados por Eduardo Giacomini situam as cenas num escritório dos anos 1930, com uma mimosa máquina de escrever servindo de portal para a ficção. Apenas uma das esquetes terminou sem muita graça. Outra se destacou pela perspicácia de dois atores que criaram o “rap da mobilidade urbana”. Falando com ginga de coisas que não entendia, o personagem em cena era “MC Deleuze”.
A característica de humor absurdo é impulsionada, em geral, pelo diretor Andrei Moscheto. O restante do elenco é formado por Anne Celli, Edran Mariano, Jairo Bankhardt, Kauê Persona e Marcelo Rodrigues.
Com cancha criada ao longo de 15 anos de espetáculos consistentes, outra marca das gags do grupo é a sátira social. As questões quentes do momento são fortes candidatas a virar piada, como aconteceu na noite de terça com o governador Beto Richa e com a religiosidade.
Risco
O improviso é uma linha seguida desde 2011 pelo Antropofocus, que tem convidado mestres do gênero para oficinas na cidade, mas não representa a adoção de uma linguagem eterna: já no ano que vem o grupo deve estrear uma peça “tradicional”.
Em outubro deste ano, ocupa o Teatro Novelas Curitibanas com espetáculo ainda sem título.
Questionado se a fórmula deixa os atores com medo de não conseguir arrancar risadas, o diretor Andrei Moscheto responde: “Claro! Sempre tem essa possibilidade de que algo dê errado, mas é o que torna tudo mais mágico. E quando a plateia descobre que estamos tomando esse risco por ela, fica bastante animada”.
O fator de risco trazido pelo improviso é compensado pelo bom material fornecido pelos espectadores. “A plateia conta histórias sensacionais! A gente até não conta o relato inteiro, porque já seria uma ótima comédia por si só e daria outro espetáculo”, diz.
Em tempo: se você for com a expectativa de ver sua história se tornar esquete de humor, procure um dos atores com bloquinho de anotação na entrada e solte o verbo. Mas não vale se preparar antes: a ideia é improvisar.



