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TEATRO

“Nuon”retrata o horror do comunismo e a beleza da arte

Novo espetáculo do grupo Ave Lola fica em cartaz até maio com ingresso espontâneo

Máscaras perplexas lembram o coro da tragédia grega. | Maringas Maciel/Divulgação
Máscaras perplexas lembram o coro da tragédia grega. (Foto: Maringas Maciel/Divulgação)

“Olhe o que o ser humano é capaz de fazer quando perde a liberdade, a justiça e o bom senso.” Assim a diretora Ana Rosa Tezza fala de sua nova criação, “Nuon”, em cartaz no Ave Lola Espaço de Criação até o início de maio.

A crise que o espetáculo retrata é a violência do regime comunista Khmer Vermelho, que assolou o Camboja de 1975 a 1979. Com uma equipe de cinco atores, ela coloca em cena 11 personagens que vivenciam um pouco do terror daquela situação, mas também fugas poéticas tentadas pelos sobreviventes.

O público fica bem perto das cenas, construídas com raro apuro e acabamento, apesar da simplicidade do cenário. Num tablado central, fantasmas se apresentam na noite dos mortos cambojana, quando são celebrados seus ancestrais.

Surgem então o príncipe Sihanouk, tirado do poder durante o golpe; o diretor de um campo de refugiados onde as mortes são constantes; duas irmãs enviadas pelos pais ao exterior para se protegerem das atrocidades. A ativista Phalyn Nuon, que dá nome à peça, é retratada em três épocas, até seu estabelecimento como protetora de refugiados traumatizados.

A poesia inserida na história de horror começa ainda fora da sala de apresentações, quando o grupo oferece um espaço com almofadas e um jardim enorme para se degustar uma refeição, vendida no local, inspirada na culinária do Camboja. Em cena, a alusão às relíquias religiosas, e a própria maquiagem e figurino aludem com riqueza de detalhes às coisas caras ao povo cambojano.

“A busca pelo acabamento é forma respeitosa de falar artisticamente de um povo que tem cuidado e riqueza na elaboração estética”, explica Ana Rosa. “A arte no Khmer antigo era super detalhada e delicada, então quisemos trazer à cena o que eles tinham de mais bonito, para falar do mais feio.”

Quem buscar um relato linear da guerra não encontrará: é uma criação a partir de oito meses de pesquisas sobre o país, mas que resulta num lugar imaginário habitado pelo teatro.

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