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Carolina Kasting e Olavo Cavalheiro em “Querido Brahms” | João Caldas Filho/Divulgação
Carolina Kasting e Olavo Cavalheiro em “Querido Brahms”| Foto: João Caldas Filho/Divulgação

Segundo estimativa recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão em todo o mundo. Considerado um dos males do século 21, a doença é retratada com perfeição e amenizada em cena com a música clássica em “Querido Brahms”, espetáculo teatral dirigido por Tadeu Aguiar que teve duas sessões no último fim de semana em Curitiba.

Protagonizada pelo trio Werner Schünemann, Carolina Kasting e Olavo Cavalheiro, a montagem consegue fazer um contraponto interessante. Estamos em 1854, o inverno é rigoroso em Düsseldorf, na Alemanha. Um amigo da família Schumann, o jovem Johannes Brahms (Olavo), é chamado para uma visita de emergência para uma decisão importante: o conceituado compositor Robert (Werner) está vivendo uma pausa criativa, afunda-se em depressão, decide se jogar no Rio Reno, mas é salvo por pescadores. A esposa dele, Clara (Carolina), não sabe se o sanatório é a melhor opção no momento, e decide chamar Brahms para uma conversa franca com o artista.

Parece, em alguns momentos, que a trama quer apresentar um grande triângulo amoroso, mas o roteiro vai muito além disso. A chegada de Brahms e a indecisão de Clara são bem ambientadas, com diversas referências à época. A avalanche de sentimentos chega à flor da pele com a entrada de fato de Robert na história. Inicialmente, ele parece tranquilo e normal, mas a força da depressão e sua movimentação em cena nos remetem aos sentimentos mais profundos.

Quem já viveu algo parecido (ou com alguém próximo) não sairá do teatro sem refletir . A depressão é algo que aflige a alma, cria barreiras e incomoda os entes mais próximos. O personagem de Schünemann cresce, com a música clássica conversando com o seu dilema. Esse é o grande ponto: nossos pensamentos crescem, chegam ao extremo, misturam-se com sentimentos... e ficamos sem ar na poltrona por revirarmos tanto nossas mentes. É no limbo de uma dificuldade que visitamos a nós mesmos.

As sensações visitadas conseguem atingir o ápice graças ao ótimo trabalho dos atores e ao figurino impecável. Até a névoa cruzando as janelas parece real. A iluminação e uma canção nos minutos finais tornam o enredo mais certeiro. Mesmo em alemão, a voz de Olavo Cavalheiro irradia o teatro e traz a esperança como a solução.

A ambientação é de dois séculos atrás, mas as reflexões no texto adaptado da obra homônima de José Eduardo Vendramini tocam nos problemas mais básicos da existência: sentir bem consigo mesmo e não fugir de nossas próprias vidas. “Querido Brahms” é um espetáculo que fala sobre nós mesmos – e o quanto o ser humano está apto a aprender e superar obstáculos.

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