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Tempo de vacas gordas

Corpos Celestes, que será exibido em Gramado no dia 14, marca a estreia na direção de longas-metragens do cineasta paranaense Fernando Severo

Fernando Severo: cineasta comemora o bom momento do audivisual paranaense e conta com vários projetos em andamento | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Fernando Severo: cineasta comemora o bom momento do audivisual paranaense e conta com vários projetos em andamento (Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo)
Corpos Celestes: filme de Severo e Marcos Jorge integra a mostra competitiva do Festival de Gramado |

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Corpos Celestes: filme de Severo e Marcos Jorge integra a mostra competitiva do Festival de Gramado

Fernando Severo é o diretor paranaense mais premiado no Festival de Gramado. Desde 1980, quando ganhou seu primeiro Kikito com o curta em formato super-8 Alumi­­nosa, em parceria com Rui Vezzaro e Peter Lorenzo, tornou-se presença constante no famoso tapete vermelho que dá acesso ao Palácio dos Festivais, onde já exibiu diversos curtas e o média-metragem Paisa­­gem de Meninos (2003). Ao todo, é dono de sete estatuetas.

O veterano retorna à serra gaúcha este ano como se fosse a primeira vez. E, de certa forma, é. Ele e Marcos Jorge participam da mostra competitiva com Corpos Celestes, que marca a estreia na direção de longas-metragens da dupla – embora, o segundo tenha se lançado nacionalmente com Estômago, que chegou antes aos cinemas.

O cineasta é conhecido pela vasta produção de curtas – o último deles, O Hóspede Secreto, baseado em conto de Miguel Sanches Neto, foi exibido no ano passado no quadro Casos e Causos, do programa Revista RPC. A adoção do formato não foi propriamente uma escolha. "Antes não havia editais como agora. A maior parte de quem faz cinema aqui se vale dos editais do estado ou do município e dos concursos do MinC", diz ele. O próprio Corpos Celestes foi contemplado pelo primeiro edital de cinema e vídeo do Governo do Paraná. "Antes disso, no Paraná, aparentemente quase não se fazia cinema, mas toda essa geração talentosa que está produzindo agora está aí há muitos anos", explica Severo.

Com dois roteiros de longa-metragem inscritos em editais e um documentário de média-metragem aguardando data de lançamento, Severo demonstra contentamento com o momento atual. "Para quem pegou um tempo de vacas magras como eu, esta é uma fase muito propícia para o audiovisual", diz. Ele se refere não só ao apoio governamental, mas às facilidades do formato digital, "mais prático e barato".

Catarinense de Caçador, interior de Santa Catarina, Fernando Severo mudou-se para Curitiba para se preparar para a faculdade de Enge­­nharia (que trocou pela de Publici­­dade e Propaganda). Mas, já no cursinho, o garoto que recortava figuras das revistas e as punha para rodar em um rolo de papel, descobriu a Cinemateca de Curitiba, dirigida pelo escritor e cineasta Valên­­cio Xavier (1933-2008).

Assim como muitos outros jo­­vens que formariam a chamada "Geração Cinemateca", virou um rato do lugar. O primeiro curso que fez lá, com o montador dos filmes do diretor alemão Wim Wenders, Peter Przygodda, marcaria sua trajetória como cineasta. "Há muita influência do cinema alemão no meu trabalho", conta. O autodidata é hoje professor de direção da Escola Superior Sul-Americana de Cinema e TV do Paraná (Cinetvpr) e coordenador do curso de Cinema Digital do Centro Europeu. "Há um ensino sólido na área em Curitiba, que vai contribuir para mudar a cara do cinema do Paraná", considera.

Direção compartilhada

Corpos Celestes foi filmado em 2005, mas os diretores preferiram guardá-lo para que ele não concorresse com Estômago, filmado no mesmo período, mas em processo de negociação mais avançado com os distribuidores. "Considero que esta foi uma estratégia muito boa, porque o sucesso nacional e interna­­cio­nal de Estômago com certeza vai impulsionar Corpos Celestes", avalia.

O diretor desmente os boatos de rivalidade no set. "Eu e Marcos temos 20 anos de amizade, compartilhamos as mesmas influências culturais, então, não tivemos dificuldades de dividir a direção." Os diferentes temperamentos e modos de se comportar nas gravações – Severo prefere se posicionar à la Hitchcock, de olho no videoassist, e Marcos Jorge prefere se movimentar pelo local –, foram dribladas na fase da pré-filmagem, em que foram debatidas todas as questões artísticas.

"Sou adepto da frase do diretor gaúcho Jorge Furtado, que diz que ‘o set de filmagem é um péssimo lugar para se ter ideias’. O filme foi preparado minuciosamente. A gente ensaiou muito os atores, discutimos enquadramentos, iluminação e direção de arte", conta Severo.

Ele compactua com Marcos Jor­­ge o fascínio pela astronomia – pai­­­­­­­­xão que move o protagonista Francisco. "Se manter focado e sereno diante do contraste de uma vida terrena, com problemas tão pequenos dian­­te do cosmos, é um desafio pa­­ra o personagem e para mim", compara.

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