Uma homenagem que queira ser fiel à persona de Tim Maia precisa driblar a onda do politicamente correto que, para muitos, assola as artes no país. E é assim que Tim Maia Vale Tudo, O Musical (veja o serviço completo) chega aos palcos. Logo no início, uma brincadeira com a duplicidade de significados da palavra "baseado" dá o tom jocoso e irreverente do espetáculo.
Em cartaz nos dias 24 e 25 de setembro no Teatro Guaíra, o espetáculo conta a carreira de um dos inventores da música soul brasileira com a devida dose de vícios e amor livre que a caracterizou 13 anos após sua morte, completados em março deste ano, uma mulher conseguiu autorização da Justiça carioca para a exumação do corpo do astro, alegando ser sua filha.
"O Tim era politicamente incorretíssimo", conta o amigo pessoal e biógrafo Nelson Motta, que conversou com a Gazeta do Povo por telefone. "O musical tem incontáveis bauretes [baseados], viagens de ácido e até o que o Tim apelidou de triatlo: fumar um baseado, cheirar uma carreira de pó e beber um copo de uísque", conta. Na obra, esse último é musicado pela trilha do filme Carruagens de Fogo. "O público morre de rir", promete Motta, autor da mais preciosa fonte de informação sobre o cantor a biografia Vale Tudo O Som e a Fúria de Tim Maia, com 160 mil cópias vendidas desde o lançamento em 2008.
Além do respeito ao estilo de vida do autor de "Sossego" e "O Descobridor dos Sete Mares", o musical marcou um gol, na definição de Motta, ao escalar Tiago Abravanel para viver o artista.
Neto do apresentador Silvio Santos, o garoto de 23 anos já atuou em nove musicais e conquistou o diretor João Fonseca logo que iniciou seu teste para participar do elenco. "Ele arrasou e o João não quis mais ouvir ninguém", conta Motta.
A boa atuação de Tiago levou até a alterações no roteiro do espetáculo, que inicialmente previa diálogos entre o Tim novo e o Tim quarentão. "Mas o Tiago era tão completo que isso mudou a estrutura do musical."
Falando em estrutura, a obra opta pela metalinguagem: os personagens volta e meia saem de seus papéis para encarnar um narrador que explica o funcionamento do musical. "Vale tudo", avisa logo no começo um deles.
A alegria da plateia é tensa, já que os fãs sabem que ao final chegará a encenação da morte de Tim o cantor passou mal durante um show no Teatro Municipal de Niterói, em março de 1998, sofreu duas paradas cardiorrespiratórias e saiu de ambulância. Foi seu último show. A tristeza é amenizada por 15 minutos de encerramento em estilo bailão, em que o público costuma levantar para dançar.



