
Na última edição do Festival de Cannes, Steven Spielberg surpreendeu o mundo do entretenimento com uma notícia. Anunciou que seu próximo projeto não seria mais Lincoln, cinebiografia do presidente norte-americano Abraham Lincoln (1809-1865). Havia decidido tirar do papel um projeto antigo: a adaptação para as telas de As Aventuras de Tintin, série de histórias em quadrinhos criada pelo artista belga Georges Remi, mais conhecido como Hergé.
Nas últimas semanas, andaram circulando rumores de que o neozelandês Peter Jackson (da premiada trilogia O Senhor dos Anéis) tomaria o lugar de Spielberg na direção do primeiro filme de uma possível trinca de longas-metragens baseados na obra de Hergé. O cineasta norte-americano, no entanto, garantiu quarta-feira passada que ele mesmo estará à frente do episódio inicial e Jackson assinará a seqüência.
Tintin, com lançamento previsto para 2009 ou 2010, trará no papel do repórter teen, sempre envolvido com a solução de grandes mistérios, o jovem ator britânico Thomas Sangster, de 18 anos. Ele participou do elenco da comédia romântica Simplesmente Amor, na qual viveu o precoce e sensível filho do personagem de Colin Firth, e protagonizou, ao lado de Emma Thompson, a fábula infanto-juvenil Nanny McPhee A Babá Encantada.
Também está no elenco da produção o inglês Andy Serkis (o Gollum, de O Senhor dos Anéis), que fará o papel do capitão Haddock, parceiro constante de Tintin em suas mirabolantes aventuras ao redor do mundo. Há rumores de que o americano Eric Stoltz que na juventude poderia muito bem ter interpretado Tintin será o Dr. Krospell.
Tecnologia
Até onde se sabe, contudo, Spielberg e Peter Jackson não pretendem transpor as histórias de Tintim para a tela grande de maneira convencional. Pretendem aliar o formato live action (com a utilização de atores e locações de verdade) à animação em 3D. Os movimentos e expressões faciais do elenco serão primeiro filmados e, a partir deles, estão sendo criadas versões dos personagens em animação tridimensional.
Segundo Jackson, já foi produzido pela empresa Weta Digital um teste em curta-metragem de 20 minutos, atestando a viabilidade do uso dessa tecnologia híbrida e inovadora. "Conseguiram replicar os desenhos originais de Hergé, mas sem que os personagens tenham a aparência de cartum, de desenho animado estamos buscando dar-lhes aparência realista, das fibras de suas vestimentas aos poros da pele e cabelos. Eles parecem pessoas de verdade mas pessoas vistas pelo olhar de Hergé", afirmou o neozelandês.
O roteiro de Tintin será assinado por Steven Moffat (do seriado Dr. Who). Para que aceitasse o convite de Spielberg, o escocês exigiu total liberdade de criação, sem interferência dos estúdios. O enredo tomará como base elementos presentes nos 23 comic books criados por Hergé entre 1929 e 1976.
Fã
Steven Spielberg nunca escondeu ser um grande fã da série de quadrinhos de Hergé. Ele os descobriu em 1981, quando um crítico chamou a atenção para as semelhanças entre o Indiana Jones, protagonista arqueólogo de Os Caçadores da Arca Perdida, e o precoce repórter investigativo do topete loiro. Há mais de 25 anos, portanto, o diretor vem alimentando o projeto de adaptar os quadrinhos para o cinema. Ele chegou a conversar por telefone com Hergé, que morreu em 1983 e teria completado 100 anos no ano passado.
Com sua sócia na Amblin Entertainment, a produtora Kathleen Kennedy, Spielberg fez uma proposta ao quadrinhista para a compra dos direitos de adaptação das aventuras de Tintin, mas Hergé recusou a proposta na época. Em novembro de 2002, no entanto, a Dreamworks (estúdio do qual Spielberg é um dos sócios-fundadores) conseguiu, finalmente fechar negócio com os herdeiros do artista gráfico belga.




