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Retrospectiva

Todos os olhares de João Bosco

Homenageado do ano no Prêmio da Música Brasileira, músico mineiro lança CD e DVD comemorativo dos 40 anos de carreira

O repertório foi todo gravado ao vivo, em estúdio, com convidados como Chico Buarque, João Donato e Milton Nascimento | Joana Mendonça/Divulgação
O repertório foi todo gravado ao vivo, em estúdio, com convidados como Chico Buarque, João Donato e Milton Nascimento (Foto: Joana Mendonça/Divulgação)
Lançamento:40 Anos Depois João Bosco. Universal Music. R$ 39,90 (DVD) e R$ 29,90 (CD). MPB. |

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Lançamento:40 Anos Depois João Bosco. Universal Music. R$ 39,90 (DVD) e R$ 29,90 (CD). MPB.

Em uma edição de 1972, o semanário carioca O Pasquim encartou o primeiro compacto da série Disco de Bolso, que reuniria um artista consagrado e um músico iniciante. A ideia não passou do segundo número, mas o título de estreia se tornaria histórico ao trazer a primeira gravação da emblemática "Águas de Março", de Tom Jobim, e "o tal de João Bosco".

VÍDEO: Músicos, como Alcione e Zeca Baleiro, ensaiam repertório de João Bosco e falam sobre o artista

O lado B era "Agnus Sei", uma das mais de cem parcerias da então revelação mineira com o carioca Aldir Blanc, e marco inicial que João Bosco usa para traçar um panorama de sua carreira no recém-lançado DVD ao vivo (em estúdio) 40 Anos Depois.

A reflexão sobre a carreira ganha peso com a homenagem que o artista recebe do 23º Prêmio da Música Brasileira, que acontece hoje, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Canções de João serão interpretadas por Milton Nascimento e Toninho Horta, Ivete Sangalo, Criolo, Ney Matogrosso, Alcione, Zélia Duncan, Gaby Amarantos e Zeca Pagodinho, além do próprio compositor (leia mais sobre o prêmio ao lado).

Olhares

O universo de Minas Gerais inscrito em "Agnus Sei" – de acordo com o próprio João, influenciada pelo barroco de Ouro Preto, onde era estudante de engenharia civil na época – é sublinhado no DVD pela participação de Milton e Horta, ícones da genial geração mineira dos anos 1960 e 1970.

A idealização da época de ouro do Rio de Janeiro, para onde João se mudaria em 1973, é representada pela participação do grupo instrumental carioca Trio Madeira nos sambas "Plataforma" e "De Frente Pro Crime" (que tem vocal de Roberta Sá), por Chico Buarque em "O Mestre-Sala dos Mares" e "Bom Tempo", e por composições de Noel Rosa, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola.

Da mesma época data a amizade com João Donato, que toca em "Eu Não Sei Seu Nome Inteiro" (parceria entre o pianista, João e seu filho, Francisco Bosco) e "Drume Negrita".

O padrinho da estreia, Tom Jobim, é lembrado em "Lígia" (ausente da versão em CD, que tem quatro músicas a menos) e "Fotografia" – que, ao mesmo tempo, remete em sonoridade ao fascínio de João pelo suingue da música negra norte-americana. E o encadeamento de alusões segue por frentes inesgotáveis.

"Cada detalhe é uma reflexão de um certo momento que achei importante lembrar", diz João Bosco, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo. "É um exercício de reflexão sobre os olhares que eu tinha naquelas épocas com o olhar de agora. As músicas têm uma nova maneira de se mostrar, novas vestimentas e cenários. Vou lembrando daquilo agora, como se estivesse acontecendo hoje", afirma o músico, que atribui todo o sentido final a um processo intuitivo, "sem racionalidade na concepção".

Homem-música

Este espírito de espontaneidade permeia as gravações, feitas com ares de "jam session" dados pela sofisticação musical de convidados como Horta, Donato e o velho amigo Cristóvão Bastos, que participa da instrumental "Lilia", de Milton. E, a propósito, pelo próprio João, que é uma das referências brasileiras como instrumentista. Seu violão de grande complexidade e precisão rítmica da mão direita, simultâneas aos complicados acordes na mão esquerda, é uma "escola" com as dimensões de estilos como os de João Gilberto, Baden Powell e Gilberto Gil – como explica o próprio compositor baiano em um dos vídeos produzidos pelo Prêmio de Música Brasileira.

Este aspecto musical na obra de João é classificado como a sua porção de "homem-música" por Francisco Bosco, no texto de apresentação do DVD, que atribui ao pai o mérito de também ostentar a faceta de "homem-canção", responsável por tantas outras obras-primas da relação entre melodia e letra que não estão nesta gravação. Clássicos como "Incompatibilidade de Gênios", "O Ronco da Cuíca", "Linha de Passe", "O Bêbado e a Equilibrista" e "Papel Marchê", além de "Bala Com Bala" (sua primeira composição com Blanc gravada por Elis Regina e também responsável pela sua estreia fonográfica), ficaram de fora por já terem sido registrados no também comemorativo e ao vivo Obrigado, Gente!, lançado em 2006 por ocasião de seus 60 anos de idade.

Efeméride que João já alegava ser desimportante, como afirma ser a destes 40 anos. "É comemorativo, mas não sinto isso. É uma música boa, feita agora, por novos arranjos. Nem precisava ser comemorativo. É apenas uma coincidência cronológica", diz. A perenidade de sua obra, que o músico atribui à estética duradoura de toda a sua geração, é o que interessa. "Quero viajar com um sexteto fazendo shows de mesmo nome do DVD, com boa parte do repertório. Mas a gente vai curtir a música, não a celebração."

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