
Os críticos de cinema torcem o nariz para Giuseppe Tornatore. E com certa razão. Apesar de Cinema Paradiso, que lhe rendeu o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1991, ser um dos títulos prediletos de muitos cinéfilos, a filmografia do diretor siciliano é vista pela crítica mais exigente como um passo para trás na história do cinema italiano. Nostálgico, sentimental, convencional e kitsch são alguns dos adjetivos não muito elogiosos que os detratores costumam utilizar para classificar seus longas-metragens.
Não há como discordar da afirmação de que Tornatore é um nostálgico inveterado. E um sentimental incorrigível. Boa parte de seus filmes Cinema Paradiso, O Homem das Estrelas e Malena, só para citar os mais conhecidos são obras memorialísticas e embotadas de um saudosismo transbordante do diretor tanto em relação a seu próprio passado quanto aos áureos tempos do cinema italiano. Mas até que ponto isso é mesmo um defeito tão grave?
Baarìa, mais recente longa do diretor, que agora chega às locadoras brasileiras, não escapa nem um pouco desse paradigma, é bem verdade, Mas o cineasta parece ter plena consciência disso. No seu desfecho, ouvem-se vozes. Dentre elas, uma que afirma: o artista deve falar do que sabe e se manter fiel a suas origens e raízes. A fala pertence ao pintor Renato Guttuso, conterrâneo do cineasta, mas soa como uma resposta de Tornatore aos que lhe cobram um cinema menos convencional e calcado nas tradições de sua cultura. E isso é Baarìa, cujo título se remete à região natal do cineasta.
Um épico, o filme é uma espécie de sumário da história social e política da Itália no século 20. O diretor, no entanto, opta por adotar um ponto de vista particular, nada grandioso, de um personagem desimportante e absolutamente romantizado. Sua trama gira em torno de Peppino Torrenuova (Francesco Scianna), um camponês siciliano que, já na juventude, ingressa no Partido Comunista e acompanha todas as inúmeras transformações vivenciadas pelo país até os anos 80.
Como todo melodrama que se preza, a trajetória de Peppino é caudalosa, emocionante, por vezes romântica, em outras trágica. É um filme de Tornatore, afinal de contas. Mas emociona e prende a atenção do espectador do início ao fim, no melhor estilo do diretor. GGG



