Numa semana cheia de opções no teatro, o Guairinha oferece, de sexta-feira a domingo, a oportunidade de ver de perto duas estrelas em Sem Pensar. A primeira é Denise Fraga, dona de boa parte dos bons papéis da comédia feminina dos últimos anos. A outra é a inglesa Anya Reiss, que, se não corporalmente, estará presente com sua obra, um texto que agradou aos londrinos em 2010 a ponto de receber, aos 19 anos, diversos prêmios importantes.
A escritora inglesa despontou aos 17 anos ao participar de uma oficina de dramaturgia do Royal Court Theatre, de onde saiu como a autora mais jovem a ter um trabalho encenado na capital inglesa.
A união das duas começou quando Denise assistiu à peça ao lado do marido, na Inglaterra, e observou os comentários na saída do teatro. Todos empolgados, ela relembra.
Correram para fazer uma versão brasileira, que estreou em maio do ano passado, em São Paulo.
"Anya veio para nossa estreia no Rio sem saber o que iria encontrar, e depois contou que talvez nossa versão tenha superado a original", conta o diretor do espetáculo, Luiz Villaça, casado com Denise, após se desviar da direção cinematográfica sob os apelos da mulher.
Com a participação de oito atores, a peça se desenrola em dois andares de uma casa sem paredes. O espectador enxerga todos os espaços da residência, e pode observar algumas ações avulsas enquanto dois ou mais contracenam em um dos nichos.
Na trama, um casal que mal consegue conversar tenta lidar com o desemprego, uma traição recente e a agitação da filha adolescente. Para completar a renda, aluga um quarto para um jovem, que recebe a visita da namorada... A história, que poderia parecer banal e até triste, ganhou na pena de Anya um senso de humor inusitado.
É a opinião de Denise. "Essa menina fez um gol dramatúrgico. Escreve uma comédia sobre um drama, e o humor é um grande instrumento para reflexão", acredita. Em meio à comédia de erros em que um ouve o que não deve e o outro diz algo ainda pior, a falta de comunicação real fica evidente.
O que mais anima a equipe responsável pela montagem é perceber que existe uma identificação real por parte da plateia. "É surpreendente a quantidade de pessoas que respondem ao nosso questionário dizendo que é igualzinho lá em casa", diz Denise.
A comparação não há de descer fácil para quem quer que seja. A personagem de Denise, Vicky, é uma mulher definida como "em TPM crônica", que reclama de tudo, principalmente do que diz respeito ao marido (Kiko Marques).
A filha, Delilah (Julia Novaes), se apaixona pelo inquilino de casa, Daniel (Kauê Telloli). O problema é que ela ainda não completou 13 anos, enquanto ele tem 21 e, ao se ver apaixonado também, enfrenta o peso do dilema moral.
