"Se a gravadora do Jota Quest pode, por que um selo de Curitiba não pode?". Esse é (ou deveria ser) o argumento usado pelos fãs da Relespública para defender a "legitimidade" do pacote de CD e DVD que o trio acaba de lançar em parceria com a MTV. O produto leva a marca da emissora musical, mas foi produzido pela empresa local Villa Biguá, mais conhecida entre o público de reggae.
Como se sabe, o mundinho do rock é habitado por xiitas de todos os tipos. E quando surgiu a notícia de que a Relespública "pagaria" para gravar um especial da MTV, houve quem se apressasse a acusar o grupo de "vendido". Em seguida, informações de bastidores deram conta do custo da empreitada: entre R$ 20 mil e R$ 50 mil. Nem precisa dizer que os radicais foram à loucura. Como se banda pobre fosse sinônimo de banda "honesta".
O projeto MTV Apresenta, uma versão do MTV Ao Vivo para nomes de médio e pequeno porte, realmente funciona dessa forma. A emissora convida, registra e exibe o show. Mas é o artista quem banca a produção. Foi assim com Otto, Simoninha, Gram e até Dado Villa-Lobos, guitarrista da finada Legião Urbana. No caso da Relespública, a Villa Biguá (comandada pelo empresário e músico Guilherme Prosdócimo, herdeiro da marca de refrigeradores) teve bala na agulha e encarou o investimento.
É verdade que o show foi gravado em São Paulo e assistido por um restrito grupo de fãs curitibanos, levados à cidade em ônibus fretados. Também é verdade que, em 17 anos de carreira, a Relespública recebeu pouquíssima atenção da MTV. Ainda assim, não se trata de uma banda iniciante, tampouco criada em laboratório para "estourar". Fábio Elias (voz, guitarra), Ricardo Bastos (baixo) e Emanuel Moon (bateria) estão juntos desde a adolescência, contribuíram para o fortalecimento da cena local e, acima de tudo, têm algo que os difere da maioria: uma história.
E que trajetória, diga-se. Da morte de um integrante à desilusão com uma gravadora multinacional, o trio já passou por quase tudo o que um grupo independente pode suportar. Continua na ativa graças à amizade e, claro, à força inexplicável do rock. "Legitimidade", portanto, é com eles mesmo.
Só é uma pena que o custo exato do projeto não tenha vindo à tona, por opção dos produtores. Quanto mais às claras for o jogo, melhor. Deixemos esse tipo de segredo para a gravadora do Jota Quest.



