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 | Felipe Lima / Gazeta do Povo
| Foto: Felipe Lima / Gazeta do Povo

Tem gente que coloca no Facebook uma canção bem animada e avisa: "trilha sonora para fazer faxina". Não vejo como apavorar no toca-discos com o barulho do aspirador de pó invadindo toda a casa. Mas, nas aulas de pilates, é inevitável: cada professora vem com uma seleção própria e os movimentos propostos acabam tendo a mesma pulsação da música.

Uma professora que também dá aulas de ioga, por exemplo, propõe trilhas indianas. O som do chocalho ritmado embala a troca de pernas, pra cá, pra lá, sobre a bola. De certa forma, aquilo contribui para o clima de seriedade da garota, que enxerga a ginástica como um estilo de vida, algo além do condicionamento físico.

Um viés diferente da professora surfista, que se mostra fã de Jack Johnson. O violão suave e ao mesmo tempo alegre e espertinho é ideal para o alongamento, em faixas como "Wasting Time" e "Flake". "Banana Pancakes" não, que dá fome.

Em meio às alternâncias entre barriga para cima e barriga para baixo, o aluno se imagina sobre a prancha, deslizando numa Honolulu azul clarinha com areia quente. Abre os olhos e o Sol entra pela janela da academia, em exercícios perfeitos para o horário da manhã.

Já para os abdominais criativos (não sei onde elas aprendem tantas formas de massacrar os músculos alheios) cai bem algo um pouco mais pesado, que fale sobre o sentido da vida numa balada progressiva. Aqui entra o problema de quem tenta seguir as letras, o que pode causar sérios problemas de confusão entre pernas e braços e direita e esquerda.

A mesma instrutora alterna as sessões de "sonzeira havaiana" com a surf music australiana. Vale, por exemplo, Midnight Oil – "This Is Australia" é presença garantida em todos os horários de aula. Bacana essas viagens pelo globo, tudo em 50 minutos de sofrimento comedido.

Uma terceira via é proposta pela professora bailarina. Dá para dizer que ela alterna bastante a escolha de trilha para não enjoar. Numa semana, a inspiração vem do Cirque du Soleil. E quem melhor para patrocinar as tentativas de parar de joelhos em cima de uma bola? No nível avançado, diz que tem gente já ficando em pé.

Passada essa fase, ela engata um blues ideal para o horário da noite e o seu estilo de ginástica, que força os músculos a irem sempre um pouco mais além, em vez de enfocar as repetições e a força.

O que ela não dispensa é a trilha do relaxamento, quando é sagrada (literalmente?) a música instrumental de tons nepaleses. Não fosse a recomendação para não deixar o pensamento parar sobre nenhuma ideia fixa, o aluno começaria a se imaginar com um vestido longo, cantando ópera, ou num corpo de passarinho, voando para longe. Outra opção é planejar todas as refeições da semana ali mesmo, no colchonete.

Vamos acordando?

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