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Acidez do humor ora escrachado, ora sutil continua presente no trabalho dos humoristas do grupo “Hermes & Renato”. | Divulgação
Acidez do humor ora escrachado, ora sutil continua presente no trabalho dos humoristas do grupo “Hermes & Renato”.| Foto: Divulgação

O grupo de comédia “Hermes e Renato” começava a gravar sua temporada no canal FX quando sofreu o baque mais cruel que a existência lhe poderia reservar: Fausto Fanti, líder da trupe e humorista excepcional, cometeu suicídio.

As dúvidas quanto à continuidade do quarteto foram logo rechaçadas com o recrutamento de Franco, irmão de Fausto, e a confirmação de que os ex-MTV (e Record, sob o nome Banana Mecânica) seguiriam em frente.

As gravações naturalmente atrasaram, mas os episódios saíram — talvez por coincidência, concomitantes à criação de um canal no YouTube que finalmente resgata as atrações clássicas em alta definição.

Até o momento, metade da nova temporada foi transmitida pelo FX. Como Fausto conseguiu gravar o episódio piloto, suas participações foram espalhadas ao longo dos episódios. Além dele, o ex-integrante Bruno Sutter, famoso pelo personagem Detonator, garante aparições especiais. Pelo que já foi mostrado, conclui-se que o “Hermes e Renato” não entrou docilmente na noite serena.

Produção

No canal FX, o grupo “Hermes e Renato” abraça agora sua nova condição: não se trata mais de uma trupe de garotos desprovidos de orçamento. Os esquetes apresentam iluminação, figurino e trilha sonora incomparáveis com os quadros mais famosos do passado.

Se o grupo investisse uma temporada inteira atropelando bonecos de pano, berrando ofensas de pornochanchada com a camisa aberta, os fãs antigos dificilmente reclamariam; ainda mais diante da perda de Fausto, ressaca absolutamente justificável.

O que testemunhamos, contudo, configura-se como uma capacidade admirável de reinvenção. Nem todas as piadas atuais se destacam, claro, mas quando é que isso aconteceu? Nós só lembramos, afinal, das excelentes, e a atual temporada já lançou quantidade considerável — pérolas como o “Banco Tiamo”, “Super Nazi” e “Polly Guaraná” não devem nada ao ápice do grupo.

Grupo segue oceanos à frente do padrão nacional de humor

Atribuir a qualidade de “Hermes & Renato” ao baixo orçamento, aos palavrões e à estética trash corresponde a confundir remédio para micose com pó de mico, como diria BNegão.

A leitura da mídia contemporânea feita pelo grupo ainda é precisa: do “Canal Multixoxo” ao escritor esotérico “Saulo Botelho”, a capacidade de replicar trejeitos – longe de gastar a paródia por ela mesma – segue oceanos à frente do padrão nacional de humor.

Na tênue divisão entre os limites do humor, o quarteto consegue atirar para todos os lados sem recorrer ao método preguiçoso de pisar em quem já se encontra por baixo.

O futuro de “Hermes & Renato” não é evidente. De redublagens (vide o saudoso Tela Class) a um possível musical, o grupo pretende desenvolver uma segunda temporada no formato de seriado, isto é, levando adiante uma narrativa.

Com mais de 15 anos escancarando potencial – a estreia na MTV ocorreu no ano de 1999 –, a manutenção da mentalidade corajosa sugere um grande passo na garantia de que os integrantes do grupo não precisarão fazer do passado um consolo eterno.

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