
Assistir a Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Claudia Raia), protagonistas de A Favorita, jogando uma partida de stop, no capítulo da última segunda-feira (12), foi algo impagável e inusitado para muitos telespectadores brasileiros. Tanto que a novela bateu recorde de audiência no dia seguinte, registrando 51 pontos de média com 54 pontos de pico, possivelmente atingidos durante a cena em que Dodi (Murilo Benício) foi assassinado à queima-roupa pela vilã interpretada por Patrícia Pillar.
Tida como uma das novelas mais surpreendentes e inovadoras dos últimos anos, devido a sua trama ágil e repleta de acontecimentos importantes a cada dia, A Favorita, cujo último capítulo vai ao ar amanhã, trouxe para a frente da tevê um público normalmente excluído das estatísticas de audiência de telenovelas: os homens. Basta passar em frente a uma televisão localizada em um local público durante a exibição de logo mais à noite para constatar tal fato.
Mas, mesmo tendo conquistado o telespectador com uma trama protagonizada por uma heroína ambígua e em uma vilã sem limites para a maldade, A Favorita deve terminar deixando uma série de histórias mal contadas.
Quem consegue explicar, por exemplo, onde foram parar os US$ 22 milhões que Donatela (Claudia Raia) deixou de herança a Lara (Mariana Ximenes)? Ou então, por que Cassiano (Thiago Rodrigues) cogitou ser pai do filho de Céu (Deborah Secco), se nunca ficou claro que eles de fato transaram?
Esses são apenas alguns dos "buracos" presentes no roteiro do folhetim escrito por João Emanuel Carneiro e que nem estudiosos nem atores da trama dão conta de justificar (leia mais no quadro ao lado).
O sumiço da fortuna de Lara foi o lapso mais evidente. A quantia, que era guardada em uma conta no exterior por Donatela e foi herdada pela estudante de Geologia após a notícia de que sua mãe adotiva havia morrido em um incêndio na cadeia, simplesmente não foi mais mencionada pelo autor. "Esse valor poderia minimizar os efeitos da falência da Fontini. Pelo menos, teria impedido a venda do rancho da família a Flora, já que a vilã o comprou por R$ 30 milhões, analisa Marcos Petrucelli, crítico de cinema e comentarista de TV.
Nilson Xavier, criador do site Teledramaturgia (www.teledramaturgia.com.br) e autor do Almanaque da Teledramaturgia Brasileira, concorda: "O destino da fortuna de Lara deveria ter sido mencionado pelo autor da novela. O telespectador que acompanha diariamente a trama deve ter percebido esse lapso, explica.
Sobre a paternidade do filho de Céu, que a ex-retirante cogitou ser de Cassiano, Petrucelli tem uma teoria. "Ela e Cassiano foram interrompidos, mas dramaturgia não é sempre tão verossímil, diverte-se.
Intérprete do corrupto Romildo Rosa, Milton Gonçalves comenta o fato de seu personagem, um deputado federal, nunca ter pisado nem citado uma viagem a Brasília. "O Romildo nunca foi para a capital, mas eu, Milton, já estive diversas vezes lá, brinca.
Independentemente das tramas sem explicação, os três estudiosos reconhecem os méritos do autor João Emanuel Carneiro. "A novela fugiu do tradicional. Depois de um início amargo (marcou 35 pontos na estreia), conseguiu conquistar o público, diz Xavier. "A Favorita trouxe uma nova linguagem à teledramaturgia, elogia Mayer. Procurados pela reportagem, o autor João Emanuel Carneiro e o diretor do folhetim, Ricardo Waddington, não se manifestaram.



