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Edy Lemond posa com seu Camaro. Atrás, Cleber Mix, criador do eletro funk | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
Edy Lemond posa com seu Camaro. Atrás, Cleber Mix, criador do eletro funk| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

MCs bombam na web, em cena dividida

"Às vezes eu fico pensando e chego a me assustar: será que isto está acontecendo mesmo comigo?", se pergunta a MC Mayara, mais famoso nome da cena eletro funk curitibana.

No auge da fama e prestes a dar à luz Manuela (ela decidiu engravidar aos 20 anos, "assim como minha mãe e minha avó, uma maluquice de família"), a cantora, há apenas três anos, era só mais uma das frequentadoras das baladas promovidas por Alexandre Alves e Cleber Mix.

Depois de insistir durante um ano e atingir a maioridade, ela fez um teste para se tornar MC (a cantora de funk), foi aprovada e em poucos meses "bombou" na web. "A figura dela casou com uma ideia que a gente tinha de arrumar uma menina com cara da ‘vizinha do lado’, mais magrinha, sem aquela onda de popozuda. Hoje, não dá pra falar do funk aqui sem falar dela", explica Alves.

Em pouco tempo, os clipes de Mayara tiveram milhões de acessos (hoje são remunerados pelos sites) que mudaram a vida da menina e deram uma nova direção para toda a cena.

Muitos outros MCs também se projetaram, como os cariocas Siri e DZ e os locais Jhonny Crazy e Mercenária, entre outros.

"A gente não depende da mídia tradicional para fazer sucesso. Temos agenda de shows todo fim de semana, temos um programa de webradio que bate de oito a dez mil ouvintes e temos a internet", avalia Alves.

O sucesso de Mayara também ajudou a desmontar a parceria entre os produtores que formatou a cena local.

Alves trouxera do Rio a experiência como empresário da música (já promoveu shows de Martinho da Vila em Angola, por exemplo) e Cleber criara o conceito do som do funk local.

Os dois foram sócios durante cinco anos e se separaram "sem traumas e sem tretas", há alguns meses.

Mayara foi uma das produções conjuntas – um dos primeiros grandes sucessos, "Ai Como Eu Tô Bandida", dá esta medida: tem produção de Cleber Mix e letra de Edy Lemond. Alves é, no entanto, o agente de cantora.

"Temos projetos diferentes. Eu quis dar uma guinada mais comercial e trouxe um produtor do Rio. Queremos botar música em novela, espaço na televisão e agora estamos conseguindo", conta.

Hoje, cada um tem uma empresa com nome e elenco de artistas diferentes. Alves usa a marca Eletro Funk Brasil e Cleber Mix é o dono da Eletro Funk Executivo.

"O Cleber se manteve fiel ao som que ele criou. Eu o respeito muito e acho que há espaço para todo mundo", diz Alves.

Mambembe

Como a maior parte da exposição de toda a produção de eletro funk se dá através do compartilhamento de vídeos na internet, uma das coisas de que Alves não abre mão é a produção, a identidade "mambemebe, espontânea, meio tosca" dos vídeos que bombam na internet.

"Quando a gente solta a vinheta da produtora, o pessoal já espera: xii lá vem m...", diverte-se. Para ele, um dos segredos da aceitação é fazer um vídeo "trash" para que quem assista se sinta em casa e pense: ‘eu também posso fazer isso aí’", observa.

  • Alexandre Alves e suas MCs: Mayara grávida, DZ (de gorro) e Mercenária

Curitiba cidade funkeira? Pode até soar estranho, mas o fato é que há por aqui uma das maiores cenas funk entre as capitais brasileiras. Fenômeno forjado nas pistas curitibanas em que se criou, na década passada, o eletro funk; um subgênero "mistura da música eletrônica com o funk carioca", explica o DJ Cleber Mix.

Na ativa há mais de 25 anos, o ex-operário criado no Capão Raso é o responsável pela invenção do ritmo na pista de uma extinta balada no bairro Água Verde

"Foi de brincadeira. Numa noite, decidi mixar os dois gêneros. Eu pegava um funk carioca, cortava o grave e colocava uma batida para baixo", explica.

No eletro funk curitibano, sai de cena o pancadão e entram a batida eletrônica e o inconfundível som de teclado das mixagens de baladas populares da periferia da cidade.

"É o som mais pedido e mais aguardado nas noites aqui da casa. Quando começa [o eletro funk] a coisa pega fogo", explica o empresário Gilmar Berté, dono da Sistema X, uma das casas do gênero em Curitiba.

Outro fato que difere o subgênero de sua matriz carioca: no eletro funk não há apologia ao uso de drogas ou ao crime, nem se fala de sexo de maneira explicitamente apelativa.

"As letras têm duplo sentido, mas sem a conotação meio pornográfica de alguns nomes do funk carioca", explica o empresário e produtor Alexandre Alves. "Tanto o público quanto os empresários contratantes não lidam bem com este gênero mais pesado", observa.

Alves veio do Rio de Janeiro para Curitiba e ajudou a profissionalizar a cena que hoje está completa, com artistas criativos, empresários espertos e casas noturnas especializadas.

Há também uma geração de aspirantes a estrelas do gênero, em que desponta a MC Mayara. Atualmente com 20 anos, grávida de oito meses e com cara de menina, a cantora que mora com a mãe em Colombo já teve mais de 25 milhões de acessos em seus vídeos oficiais no YouTube. Se contabilizados os não oficiais, o número dobra (leia mais nesta página).

Ostentação

Outro nome de destaque na cena é o MC Edy Lemond. O brasiliense radicado no Paraná há três anos, é um dos principais compositores do eletro funk, autor de alguns hits em rádio nacionais, como "Ai, Como Eu Tô Bandida" (MC Mayara) e "Taca Cachaça".

"O compositor é o arquiteto. As pessoas conhecem a obra, mas não sabem quem fez", filosofa. Ele se orgulha de criar músicas "chiclete, que grudaram na cabeça das pessoas", usando ditados populares, linguagem da internet e "frases que se ouvem por aí".

"As letras são zoeira inocente, que todo mundo faz. As pessoas já conhecem o ditado e isso ajuda a música a se alastrar", explica.

Para ele, o gênero faz sucesso em Curitiba, pois aqui a "galera gosta muito de balada e som automotivo".

Com uma corrente de 300 gramas de ouro no pescoço e dono de um Camaro que vale centenas de milhares de reais, Edy afirma que a ostentação faz parte da cena funk, pois o "artista vive de vender imagem".

"Vim do zero. Eu sonhava em, no máximo, ter uma bicicleta. Me arrependo de ter feito minha mãe chorar porque queria uma e ela não podia me dar. Hoje, eu posso ajudá-la e só quero fazê-la sorrir", conta.

Para ele, o cuidado com a aparência não muda a essência humilde do gênero. "Nosso ritmo se infiltra facilmente da classe A à Z, mas o sucesso mesmo é com o povão. E por mais que você use ouro e tal, o que cativa é que os caras sabem que eu sou igual a eles."

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