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Música 1

Um caso de amor em estilo italiano

Rome, novo álbum do superprodutor Danger Mouse, ao lado do compositor Daniele Luppi, presta tributo às trilhas dos westerns spaghetti com participações de Jack White e Norah Jones

Jack White, Norah Jones, Danger Mouse e Daniele Luppi: tributo às trilhas sonoras de western spaghetti | Divulgação
Jack White, Norah Jones, Danger Mouse e Daniele Luppi: tributo às trilhas sonoras de western spaghetti (Foto: Divulgação)

Após uma leve percussão e um acorde rasgante de violão, ouve-se o canto inconfundível da italiana Edda Dell’Orso, seguido de um órgão discreto e grandiosos arranjos de cordas. A descrição poderia ser aplicada a qualquer uma das trilhas sonoras compostas pelo maestro Ennio Morricone para os chamados filmes de western spaghetti, releituras europeias do faroeste americano, bem comuns entre os anos 60 e 70. No entanto, trata-se da faixa de abertura de Rome, recém-lançado disco do novo projeto do super produtor de Los Angeles, Brian Joseph Burton, mais conhecido como Danger Mouse (Gnarls Barkley e Gorillaz).

Ao lado do compositor, arranjador e parceiro de longa data Daniele Luppi, com quem divide seu amor pelo romantismo, a delicadeza e as atmosferas quase psicodélicas das trilhas de Morricone, Danger Mouse as trouxe para o presente, em roupagem contemporânea. O processo, no entanto, foi todo vintage.

Mouse e Luppi alugaram um estúdio em Roma, cofundado por Morricone, recrutaram um time de músicos que gravaram trilhas como as dos clássicos de Sergio Leone Três Homens em Conflito (1966) e Era uma Vez no Oeste (1968) e utilizaram apenas instrumentos de época para prestar tributo às canções que embalavam os bang-bangs à italiana. Para completar, convocaram, além da já citada Edda Dell’Orso, 76 anos, o coral I Cantori Moderni di Alessandroni (grupo formado em 1961, por Alessandro Alessandroni, multi-instrumentista e amigo de infância de Morricone) e a dupla Jack White e Norah Jones.

O resultado é uma epopeia western de 35 minutos. Uma trilha sonora para um filme que nunca existiu, mas que exala o brilho technicolor saído diretamente de uma tela dos anos 60. Basta ouvir a melancólica "The Rose with the Broken Neck", com os vocais de White, para ser transportado para uma espécie de fenda temporal entre hoje e o tempo em que as desavenças eram resolvidas em duelos mortais.

Guiada pelo violão, "Two Against One", mais uma das três faixas cantadas por White, narra, em sua simplicidade pop, a história de um cowboy que duela consigo mesmo ("o espelho é o gatilho e sua boca a arma"). Na mesma linha, Norah Jones empresta sua voz aveludada à belíssima "Season’s Trees", cujas atmosferas lembram as que o duo francês Air criou para o álbum de estreia da atriz e cantora Charlotte Gainsbourg.

Quanto às faixas instrumentais, Rome impressiona ao combinar arranjos orquestrais às vozes dos integrantes do Cantori Moderni, como no interlúdio "The World", em que a doçura quase infantil dá lugar a um clima suspense. O mesmo vale para as soturnas "The Gambling Priest" e "Morning Fog".

Pensado e trabalhado durante cinco anos por Danger Mouse e seus comparsas, Rome é uma homenagem extraordinária que atualiza com esmero um gênero musical histórico sem soar datado ou retrô. É a trilha sonora perfeita para o momento descrito na faixa que encerra o disco, "The World", em que o mundo é comparado a um livro aberto e a um búfalo cujos chifres não conseguimos afastar.

Serviço

Rome, de Danger Mouse & Daniele Luppi. Capitol Records. Importado.

Preço médio: US$ 11.

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